DE há uns anos para cá, o gráfico não nos é favorável. Os indicadores de medição, neste caso, resultados nas competições internacionais, confirmam um acentuado decréscimo da nossa bola-ao-cesto na categoria de seniores masculinos. Em sentido oposto, com uma evidente curva ascendente, está a África do Sul, outrora um quintal onde íamos passear e fazer “show” para a assistência. Os factos são claros: pela segunda vez consecutiva, a selecção cai às mãos da sua congénere sul-africana em provas continentais. Em 2005, em pleno pavilhão do Maxaquene, saímos cabisbaixos, afastados da corrida para o Afrobásquete de Argel. Sábado, em Harare, dupla derrota (50-74), tendo em conta se tratar de duas frentes: Jogos Africanos da Argélia e Campeonato Africano de Angola.
A frustração é um facto indesmentível no seio dos jogadores e da equipa técnica moçambicana. E não é caso para menos, pois as próprias perspectivas de competição se projectam somente para 2009, altura em que haverá um novo Afrobásquete. Em Harare, a nossa selecção começou primorosamente, com triunfos que não faziam prever o descalabro na contenda final, embora “a priori” se soubesse que a discussão apenas ocorreria diante dos sul-africanos, depois de ganhar à Zâmbia, Malawi e Zimbabwe.
Desolado, o seleccionador nacional afirma que, se calhar, nós é que estamos equivocados quanto ao real valor dos outros países da região, sublinhando que já não brincadeira, dando como exemplo o facto de zambianos e zimbabweanos, sem tradição na modalidade, hoje se travarem de razões com Moçambique, que já foi uma referência no continente, mas que se deixou adormecer na sombra da bananeira. Quanto aos sul-africanos, esses, Milagre Macome (Mila) diz que cresceram a olhos vistos e assumiram-se como segunda potência na Zona VI, a seguir aos intocáveis angolanos.
SEM JOGARMOS NADA FEITO!...
A história da participação neste torneio zonal gira necessariamente em torno do embate com África do Sul. Milagre conta que a sua equipa aguentou até onde pôde, porém, o maior adversário foi a ausência de ritmo competitivo, perante um adversário, cujos atletas concluíram o seu campeonato em Dezembro e, mesmo na véspera desta eliminatória, a Liga TBL, o que lhes permitiu chegarem a Harare com rodagem suficiente para uma prova desta índole. Enquanto isso, os nossos realizaram o seu primeiro desafio da temporada precisamente na selecção, isto é, fizeram do torneio a sua pré-época, o que realmente é contraproducente.
“Até estivemos bem durante a primeira parte, controlámos algumas fases do jogo, mas depois veio a quebra física e aí nos superaram. Só que, paralelamente a isso, é preciso reconhecer que África do Sul está com uma estrutura muito forte e eu já tinha alertado sobre esse facto, pois observei-os numa viagem que para lá fiz. Portanto, contrariamente àquilo que podemos julgar, os sul-africanos já sabem jogar básquete e estão a ficar uma potência na região”, referiu.
Segundo o “mister”, a despeito de, globalmente, a selecção ter-se comportado bem, melhor que há dois anos, tudo isso se diluiu porque o objectivo, que era a qualificação, não foi conseguido, daí o sentimento de frustração que tomou conta dos jogadores, depois de se baterem com galhardia para o efeito.
“Já não há países basquetebolisticamente pequenos na região. Contra Zâmbia tivemos muitas dificuldades, a sua selecção está a aparecer, criou-nos imensos problemas e tivemos que nos aplicar a fundo. Malawi é o mais fraco, mas o Zimbabwe obrigou-nos a um jogo extremamente desgastante, do ponto de vista físico e, frente à África do Sul, aconteceu o que toda a gente já sabe: o descalabro. Com toda a frontalidade, assumo as responsabilidades de tudo quanto aconteceu, sobretudo o facto de mais uma vez não ter conseguido qualificar a selecção para tão importantes competições africanas”.
NÃO CRUZAR OS BRAÇOS
Maputo, Quarta-Feira, 7 de Março de 2007:: Notícias
As perspectivas para a selecção são sombrias, porquanto a próxima eliminatória só para o Afrobásquete de 2009. O treinador possui as suas ideias em relação àquilo que deve ser feito. Por exemplo, tendo em conta o crescimento dos outros países da região, acha que já não podemos ir jogar com os atletas possíveis, mas com todos os melhores que temos, sem menosprezo de nenhum adversário. Mais: a questão da calendarização da época, pois, sustenta, o apuramento continental, invariavelmente, acontece nesta altura do ano, quando nós estamos completamente parados, sem competição.
“Hoje em dia, as equipas treinam da mesma maneira, o que faz a diferença são as componentes técnica e táctica. É inconcebível que os atletas tenham feito o primeiro jogo da temporada na selecção. Não pode! Acho que devemos pensar seriamente na questão da organização, primeiro, para depois falarmos dos dinheiros. Temos pela frente este espaço todo até 2009. É imperioso que façamos alguma coisa. Não podemos cruzar os braços, sob pena de voltarmos a cair na mesma situação de falta de jogos internacionais, que é o outro “calcanhar de Aquiles” da selecção”, destacou o treinador.
Mila realça que a selecção não pode trabalhar apenas com o objectivo de uma determina prova. Segundo ele, o seu trabalho tem de ser permanente e, agora, com o equilíbrio que se verifica na região, já é perfeitamente recomendável que se façam torneios envolvendo países da zona.
“Eu, como seleccionador, recomendo que se faça assim. Os treinadores vivem de resultados, pelo que recomendo uma mudança na forma de planificarmos a selecção, adoptando uma atitude mais profissional. Na preparação para este torneio, sugerir à federação jogos de avaliação e controlo, mas disseram-me que não havia condições. Tivemos que nos sujeitar a uma preparação possível. Sabíamos que a eliminatória não seria fácil, situação agravada pelo facto de termos viajado sem conhecer exactamente o nível de comportamento da equipa. Com jogos de 5x5, como os que andámos a fazer, não se pode avaliar rigorosamente nada, nem tão-pouco criar o entrosamento necessário num grupo de atletas idos de diversos clubes”, concluiu o “mister”.