No último sábado, dia 15, terminou o prazo que os árbitros de basquetebol deram para paralisar as suas actividades caso a Federação Angolana de Basquetebol (FAB) não responda satisfatoriamente à contra proposta de subsídios. A decisão foi tomada na Assembleia da Associação Nacional de Juízes de Basquetebol de Angola (ANJBA), realizada na sala de reunião da Federação Angolana de Basquetebol (FAB). A nova proposta da ANJBA reduz para sete mil Kwanzas o valor do prémio por jogo, contra os 15 mil da sua proposta inicial, que representa um aumento na ordem de 150 por cento do valor (três mil e 16 Kz) que os juízes auferem actualmente. Após a apresentação da proposta da ANJBA, a FAB respondeu com uma contraproposta em que oferecia um reajuste de 50 por cento, passando de três mil e 16 para quatro mil e 516 KZs, valor chumbado pela ANJBA que, agora, está decidida a parar, caso não for aceite a sua nova proposta. O presidente da ANJBA, o árbitro internacional Carlos Júlio, afirmou que os filiados vão continuar a exercer normalmente as suas actividades, assegurando a presença dos mesmos nos jogos do último final de semana. “Vamos continuar a trabalhar na expectativa de ver resolvido o nosso problema. Acreditamos que brevemente tudo será solucionado”, disse. A ameaça de paralisação das actividades dos árbitros e oficiais de mesa já pairava no ar antes da realização da partida da Super Taça em seniores masculino realizada no passado dia 1 de Março, que opôs o Petro Atlético de Luanda, campeão nacional, ao 1º de Agosto, vencedor da Taça de Angola. Tudo isto porque a direcção da Federação Angolana de Basquetebol (FAB) não havia respondido a uma carta enviada pela ANJBA, em que os árbitros reivindicam o aumento do subsídio pago por cada jogo que ajuízam. Nos dias que correm, um árbitro FIBA, aquele que possui a categoria internacional, aufere por jogo um prémio no valor de 3016 kwanzas (o equivalente a 40 dólares). Já um árbitro de 1.ª categoria nacional ganha por jogo a quantia de 2585 kwanzas (34 dólares), o de segunda nacional 2154 kwanzas (32,5 dólares) e o de primeira provincial 1723 kwanzas (28,7 dólares).
Uma “novela” que começou em 2007
“A situação dos árbitros chegou a tal ponto muito por culpa da federação, que a tempo útil ignorou a primeira carta” desabafou um dos árbitros que prefere o anonimato, acrescentando que “se eles quisessem mesmo resolver as nossa questões, penso que seria em Janeiro do ano passado. Hoje porque estamos a ameaçar greve é que se estão a preocupar”.Na verdade, a ANJBA dirigiu a 29 de Janeiro de 2007 uma carta ao secretário-geral da Federação Angolana de Basquetebol, Tony Sofrimento, em que dava conta da situação e do descontentamento que reinava no seio dos árbitros e oficiais de mesa. A mesma pedia solução imediata para o problema, avançando como proposta a quantia de 100 dólares como prémio por cada jogo. Contudo, nunca houve resposta. Passado mais de um ano, a 5 de Fevereiro de 2008, os membros da Associação Nacional de Juízes dirigiram uma nova missiva, desta para o presidente da Federação Angolana de Basquetebol (FAB), Gustavo da Conceição, a expor a mesma reivindicação. Uma semana mais tarde, os árbitros foram convocados para uma reunião com o senhor Tony Sofrimento, para um encontro, no qual os juízes foram representados por Carlos Júlio, Domingos Simão e António da Cruz, todos eles figuras de topo da ANJBA. Na ocasião, os homens do apito avançaram como proposta para prémios a quantia de 15 mil kwanzas por jogo durante a fase regular, fase de grupos do Campeonato Nacional e eliminatórias da Taça de Angola. Para a final da Taça de Angola sugeriram a quantia de 35 mil Kwanzas. Estes números foram reprovados pela FAB.
“Actual tabela de prémios incentiva a corrupção”
Carlos Júlio, presidente da Anjba, defende dignidade da classe
O presidente da Associação Nacional de Juízes de Basquetebol de Angola, Carlos Júlio, avançou que os preços praticados nesta altura para pagamento de prémios têm sido muito contestados pelos árbitros. Segundo o mesmo, os valores são os mesmos de há três anos. “Acredito que já não se justificam, a julgar pelo nível de vida do momento. Existe uma vontade por parte da Associação Provincial dos Árbitros em abordar o problema e tentar actualizar os preços”, disse. Os árbitros apresentaram, segundo eles, números compatíveis com o actual custo de vida no país, e que também os pode dignificar junto dos demais intervenientes na modalidade. A ANJBA defende para o leque de árbitros do quadro FIBA, a quantia de 15 mil Kwanzas por jogo durante a fase regular; 23 mil para a fase de grupos e 38 mil para os jogos da final. “Ainda assim, estamos disposto a fazer concessões e reduzir estes números para valores que sejam dignos”, explica Carlos Júlio. Questionado se esta é a melhor maneira de reivindicar os seus direitos, Carlos Júlio afirmou: ”Realmente os árbitros estão descontentes. Já fomos abordados inúmeras vezes pelos associados, que exigem uma reunião com a federação. A associação provincial não é um movimento grevista. Não podemos aceitar que os árbitros por qualquer motivo entrem em greve, mas confesso que é a melhor maneira que se tem para manifestar a nossa insatisfação”. Acrescenta que: “os baixos prémios levam a que haja corrupção”. “Imagina você arbitrar um jogo com equipas que fazem investimento em mais de 100 mil dólares e receber três mil kwanzas de prémio. Sabendo das dificuldades que muitos enfrentam no dia-a-dia, é claro que os mais fracos podem dar o braço a torcer”, prognostica. A tabela que actualmente vigora, vem desde 2002. Segundo uma fonte, “aquando da aprovação da tabela ficou estabelecida que a mesma seria actualizada de acordo com a flexibilidade do Kwanza.
Federação estuda proposta endereçada
A Federação Angolana de Basquetebol (FAB) está a analisar a proposta da Associação Nacional dos Juízes de Basquetebol de Angola (ANJBA) de aumento dos prémios de jogo, segundo nos deu a conhecer o secretário-geral da Federação Angolana de Basquetebol, Tony sofrimento, ao Jornal dos Desportos. Quanto ao andamento das negociações, o secretário-geral, preferiu nada adiantar para não prejudicar o mesmo. “Nesta altura estamos em conversações. Por isso, não convém abordarmos esta questão enquanto durar as negociações. Embora os árbitros não estejam a respeitar isso, nós levamos as coisas muito a sério. Por isso só vamos falar quando a questão estiver resolvida”De acordo ainda com o secretário-geral da FAB, a proposta dos árbitros está a ser estudada e será respondida nos próximos dias. Mas, ao que podemos apurar, tal situação será resolvida apenas quando regressar o presidente da Federação Angolana de Basquetebol, Gustavo da Conceição, em missão de serviço no exterior do país.
Fernando Pacheco (Baganha), Arbitro Internacional
“Há muito tempo que ganhamos a mesma coisa. Penso que já é altura de actualizar o preço dos prémios de jogos. Face ao número de pessoas que normalmente afluem os campos de basquetebol, não é justo receber 3016kz, quando um bilhete para ver os jogos custa nada mais do que 5 a 6 mil kz”, diz Baganha, acrescentando que “nós, os árbitros, sofremos muito. Algumas vezes somos ameaçados. Corremos muitos riscos e isso dificulta a nossa vida privada. Acho que merecemos mais respeitos e melhores condições, assim como um prémio de jogo justo. Todos estamos a trabalhar em prol do desenvolvimento da modalidade, então, é justo que todos sejamos remunerados de acordo com o trabalho que fazemos e não conforme se tem visto. É por este motivo que estou disposto também a paralisar a minha actividade, caso os prémios não sejam revisto”.
Andrade Gonçalves Arbitro Internacional
Morador do município de Viana, Andrade Gonçalves, árbitro internacional, é obrigado a gastar quase mil kwanzas para estar a tempo e horas no campo, a fim de ajuizar uma partida de basquetebol. Para ele, a compensação financeira não é a mais justa. Ele é árbitro internacional e recebe apenas 2.585kz por partida. “Gostaria muito que a direcção da Federação Angolana de Basquetebol actualizasse a tabela de prémios. O custo de vida aumentou e é do conhecimento de todos. Na altura em que a tabela foi aprovada, os bilhetes mais caros custavam l.500 Kwanzas. Hoje, os ingressos mais caros custam 6 a 7 mil, ou seja, foi actualizado de acordo com o nível de vida actual”, explica.
Osvaldo Neto, árbitro internacional
“Devo lhe confessar que não é fácil arbitrar jogos aqui, em Luanda. É difícil. Por isso, acho que o que ganhamos não é justo. Como árbitro internacional, acho que deveria ganhar melhor, por tudo aquilo que temos feito no basquetebol. Estou de acordo com os meus colegas em paralisar a nossa actividade, pois penso que só assim seremos ouvidos. Espero que tudo corra bem e que a federação reveja o nosso caso e possamos assim apitar os jogos sem qualquer interrupção”.