Manuel Trovoada, a caminho do seu segundo ano à frente dos destinos técnicos da equipa sénior masculina do Clube Desportivo da Huíla, CDH, em basquetebol, pretende ter uma equipa competitiva, disciplinada e com fair play para que a agremiação continue a dignificar a província no Campeonato Nacional Sénior Masculino da modalidade. Na Huíla, o técnico trabalha igualmente num projecto de massificação para a descoberta de novos valores que possam, num futuro breve, reforçar os mais variados escalões da formação militar da Região Sul. E a razão é simples: “O basquetebol angolano é riquíssimo e tem jovens com conduta disciplinar cheios de fair play”. Outro projecto ambicioso, denominado “Campo de Férias”, será implementado durante as férias dos alunos ainda este ano, com a finalidade de ocupar os tempos livres dos mesmos e outros jovens lubanguenses.
Para quando a abertura das oficinas da equipa sénior masculina de basquetebol do Desportivo da Huíla?
A equipa pertence a um clube militar e alguns membros da direcção se encontram de prevenção. Tínhamos tudo agendado para que o arranque da época desportiva acontecesse no dia 15 do corrente mês, mas, por razões alheias à nossa vontade, abri-la-emos no próximo dia 22. O clube está a envidar esforços para que tudo corra bem. Nesse momento, decorre o processo de selecção de alguns atletas que vão reforçar o elenco. Nem que seja com 50 ou 60 por cento da equipa, daremos a abertura da época para que possamos cumprir a nossa programação nos próximos dias.
Quantos atletas trabalham nesse momento? Quantos podem ficar na equipa?
Actualmente, estamos a observar 20 atletas, mas o objectivo será ficar com apenas 15 atletas no plantel.
Qual é a faixa etária dos atletas que pretende ter no plantel para esta época?
Vamos ter uma equipa mais jovem. Não quer dizer que seja menos experiente. Vamos trazer alguns jogadores experientes, mas jovens com vontade de aprender; de querer ter um espaço no basquetebol no futuro. Serão jovens a quem possamos passar a mensagem de que para além do basquetebol, em particular, e do desporto, no geral, que é saudável, existe também o amanhã. Que eles possam continuar a estudar e que aprendam os princípios de boa educação, da conduta da vida e que no futuro próximo possam encarar esta competição quer do ponto de vista profissional quer amadora.
Vai contar com alguns elementos que fizeram parte do plantel anterior ou haverá alterações?
Vou contar com alguns elementos que estiveram cá na época passada. O plantel todo é extremamente difícil, porque foi uma equipa a qual ninguém deu valor no princípio. Queria agradecer à direcção, aos técnicos que trabalharam e aos atletas que foram dignos pela valorização de todo o trabalho que tivemos durante o campeonato. Hoje, quem tem mais dinheiro paga e leva o melhor. Não estamos preocupados com isso. Queremos que os próprios atletas sejam dignificados e que reconheçam o trabalho que fizemos. Isto é que é gratificante. E como vê, eram atletas desconhecidos e à custa desse trabalho e das condições que foram criadas pelo próprio Clube Desportivo da Huíla, estão a despontar no caminho certo. Há uma luz no horizonte que anuncia a possibilidade de estes atletas representarem a nossa Selecção Nacional de Basquetebol num futuro próximo.
Que destino será dado àqueles atletas com uma idade já avançada?
Vamos contar com esses atletas. Dou exemplo do Bwila Katiavala que é o jogador mais velho e vejam o que ele acrescentou a essa equipa. Bwila chegou com grandes carências em termos físicos; não conseguia fazer jogos bi-diários. Por exemplo, não tinha condições físicas para os jogos de fim-de-semana (sábado e domingo). Conseguimos ajudá-lo e superou. Em contrapartida, transmitiu a sua experiência à juventude; teve um papel digno; passou a sua mensagem e experiência acumulada ao longo desses anos todos de basquetebol. Os atletas experientes que têm essa mensagem e queiram colaborar serão sempre bem-vindos, porquanto são mais treinadores dentro do campo. O Bwila é uma pessoa experiente que ajudou a transmitir a mensagem daquilo que o treinador pretendia. É uma iniciativa que os jovens também podem aprender. No mundo basquetebolístico moderno, temos assistido hoje a presença de jogadores com idade avançada e que são de extrema importância. Eles estão presentes em diferentes campeonatos como a NBA ou em vários campeonatos europeus. A miscelânea entre os veteranos e a juventude resulta na elevada qualidade do desporto.
Definição do plantel acontece no final do mês Que trabalho será desenvolvido ao longo da pré-temporada?
Temos a nossa planificação feita desde os testes médicos à parte física e técnica. Neste momento, estamos a trabalhar com alguns elementos duas a três vezes por semana, onde já estão alguns atletas locais, a melhorar os fundamentos tácticos defensivos e ofensivos e técnicas individuais. Quando tivermos o plantel todo, vamos arrancar em bloco dentro desta planificação.
Para quando a definição de um plantel?
Defini-lo-emos no final do mês, porque há alguns atletas que ainda não chegaram. Na próxima semana, chegam mais alguns elementos. Há outros que os avaliarei, quando me deslocar a Luanda. Precisamos de mais dois ou três elementos; também queremos aproveitar a prata da casa, razão desse processo de observação que temos vindo a fazer nestes últimos dois meses.
Quais são os objectivos para a presente época depois de a equipa ter conseguido a sexta posição na classificação geral?
Temos um objectivo pessoal que não pode ser divulgado de momento em virtude de ainda termos uma equipa incompleta. Quando tivermos o conjunto completo, vamos traçar um objectivo colectivo, a partir do meu que está escondido. Manteremos os mesmos princípios traçados no ano passado. Uma equipa que jogue bem e dignifique a província. O basquetebol angolano é riquíssimo e tem jovens com conduta disciplinar cheios de fair play. É isto que desejamos no Desportivo da Huíla. Igualmente, pretendemos elementos que venham colaborar, acrescentar e que tragam mais jovens ao basquetebol. Foi isso que conseguimos à custa de uma época brilhante na edição passada; que possamos aproveitar esses jovens no futuro próximo, não só para a equipa da Huíla, quiçá para as melhores equipas do campeonato nacional. Estamos a trabalhar para isso.
Estava para ter um encontro com a direcção do clube. O que tem agendado para apresentar na reunião?
Tenho sempre contacto com a direcção. Neste momento, para além de darem apoio ao basquetebol e ao futebol, os membros da direcção estão a fazer parte de uma missão de prevenção para o nosso país. O CDH é uma equipa militar, cujos directores integram a missão. Estamos a dar espaço, temos de respeitá-la e o processo que os levou à missão já terminou. Tão logo haja redução das exigências do seu trabalho, vamos reunir. Temos tudo agendado. A direcção sabe o que pretendemos e o que nos podem dar. Sentar-nos-emos e arrancaremos com mais força.
Massificação começa a dar frutos
Quando iniciou o projecto da descoberta de novos valores?
No ano passado. Desde o seu arranque, já descobrimos dois grandes jovens no município da Chibia (40 quilómetros da cidade do Lubango) que foram apresentados através da senhora Adelina, que se encontra a trabalhar na massificação do basquetebol naquela localidade. Um desses jovens tem 1,90 centímetros, o que já é bom.
Quantos jovens foram descobertos até ao momento?
Do acompanhamento que fazemos regularmente da rua e nos campos dos bairros, conseguimos recolher cerca de 30 jovens. Estamos a trabalhar há dois meses e desses jovens, vamos aproveitar quatro ou cinco para ficarem no plantel do Desportivo de forma que os outros continuem a manter a esperança de fazer parte dessa formação no futuro próximo.
O vosso trabalho termina aqui?
Estamos a ajudar na preparação da equipa do Benfica, em feminino, as equipas do Heja, Tchioco e Chibia entre outras. O objectivo visa ajudar os jovens que forem escolhidos para representar a província no campeonato nacional para que o façam em boas condições físicas, técnicas e tácticas.
Como tem sido a adesão da classe feminina?
Tem sido boa. Diria mesmo bastante. Muitas vezes, trabalhei no Benfica. Será um grande objectivo para o próximo ano tentar formar uma equipa sénior feminina na província da Huíla, para podermos aproveitar o bom trabalho que se tem vindo a efectuar com os jovens da equipa júnior do Benfica do Lubango e aquelas que deixaram de jogar por ascender a seniores e não havia clubes para as absorver. O mais brilhante é a quantidade de miúdas dos 12, 13, 14 anos que estão a aparecer com o pensamento de um futuro melhor e querem chegar à equipa sénior. É nosso objectivo, para além desse trabalho de massificação, do acompanhamento que estamos a fazer das equipas, da prospecção que estamos a fazer de talentos, termos de facto um relançamento forte do basquetebol feminino dentro da província.
Qual é a faixa etária desses petizes imbuídos no processo de massificação?
No período da manhã, temos jovens dos 8 aos 15 anos. Foi introduzido o período que parte das 11 horas e prolonga-se até ao período da tarde, jovens dos 16 aos 18 anos.
A sua vinda ao Lubango, para além de treinar a formação do Desportivo da Huíla, enquadra-se igualmente na descoberta de novos talentos a nível da região Sul do país (Huíla, Cunene, Namibe e Kuando-Kubango). Quer comentar?
Nesta primeira fase, fizemos contacto com a província do Cunene. Temos um técnico que vai chegar dentro de dias, que também se encontra cá e vai dar um apoio dentro do próprio Cunene. Temos jovens que foram acompanhados durante o campeonato. Está prevista uma viagem à província do Cunene que se circunscreverá em trabalho de prospecção. Pretendemos trazer mais dois jovens, ainda neste ano. Um outro treinador vai trabalhar em simultâneo, dentro daquilo que estamos a fazer, de forma a que possamos ter um técnico naquela província sob minha fiscalização, dando o material didáctico e aproveitando os maiores talentos locais para a formação do Desportivo da Huíla.
Que apoios tem tido por parte da Associação Provincial de Basquetebol?
De momento, temos tido apoios. Em termos materiais, ofereceram-nos 10 bolas de mini-básquete. Estou à espera de um material prometido numa conversa mantida com o vice-presidente e o presidente da associação. O próprio Clube Desportivo da Huíla adquiriu 10 bolas que nos têm apoiado muito. A par disso, também disponibiliza não só o técnico como os monitores, que são os jogadores integrantes do plantel e o material didáctico, as bolas, cones, etc.
Empresários huilanos chamados a contribuir
O clube tem recebido muitos apoios?
A direcção da nossa agremiação tem feito um esforço muito grande para que a província tenha um representante condigno no campeonato nacional da modalidade. Agora, como treinador dessa equipa, falo em meu nome e não no da direcção, estou um pouco decepcionado com a classe empresarial que se encontra dentro da província.
Por que o seu desagrado?
Estou cá há um ano e alguns meses e trabalho com os meus colegas em prol da juventude e da própria província. Fizemos um campeonato brilhante, no qual levamos o nome da província Huíla em todos cantos do país. E, é um pouco estranho e decepcionante como é que a Huíla, com bons empresários e empresas nenhum se alia ou dá apoio a este grande projecto. Só para lhe dar um exemplo: neste preciso momento, estamos a trabalhar com mais de 60 jovens num processo de massificação, dos quais mais de 30 jovens treinam pela manhã muito cedo e no período da tarde, acompanhamos outros jovens. Estamos desde o mini-básquete a juniores todos da província huilana. Eles precisam também de apoio em material desportivo como bolas, t-shirt entre outros. E quando falo de apoios ao Desportivo da Huíla, que é o maior embaixador, lembro-me destes projectos. Não só o Desportivo, o Benfica e outras equipas que estão a trabalhar para o desenvolvimento do desporto na província, que estão a tentar preparar jovens para o futuro próximo, quiçá alguns deles até puderam trabalhar nessas empresas. Esses empresários podem dar uma palavra, um apoio significante à província para o seu desenvolvimento sustentado… Acho que sim. Eles podem fazer este papel. Se olharmos a outras províncias, mormente Cabinda, Luanda e Huambo, que vai aparecer agora, todas aquelas equipas têm apoios de muita gente. E sei que aqui, há gente com muito boa vontade e condições para darem um pouco do seu contributo em prol do desenvolvimento desportivo da província. Então está a querer dizer que só tem o apoio do clube...É uma pergunta que não me cabe responder, mas sim à direcção. Estou a fazer apenas um alerta daquilo que acho que possa ser importante. Por exemplo, o projecto de massificação não tem apoio de outras instituições para além do único tutor. Tenho um projecto em carteira, que vamos arrancar tão logo acabem as aulas, que é o Campo de Férias de Verão. As empresas podem dar a esse projecto alimentação, estadia, condições de trabalho e dignificar a imagem da província. Os jovens, que estamos a fazer a triagem para a equipa principal de basquetebol do Desportivo, têm dificuldades de um par de sapatilhas, por exemplo. Os empresários podem apoiá-los. Tenho esperança que eles (empresários) venham a acreditar ser um projecto viável; que vale a pena apostar na juventude. Há muitas vantagens para as empresas quando estão ligadas a esses projectos. Os seus nomes ganham notoriedade na província e no país. Campo de Férias de Verão é o próximo objectivo
Qual é o objectivo principal do projecto de Campo de Férias Verão”?
O objectivo é dar ocupação a esses jovens que durante as férias vão ficar sem fazer nada. O objectivo é ensinar-lhes também que existe o basquetebol, ou outro tipo de modalidades. Vamos inserir dentro deste campo de Verão, para além de basquetebol outros tipos de actividades, designadamente, artes plásticas, futebol e atletismo. Temos aqui dentro da província os melhores fundistas que podem passar um pouco da mensagem a esses jovens. Quer dizer, vamos ocupá-los com actividades lúdicas que servem de preparação para o futuro. Vão aprender a jogar o basquetebol; a ter gosto pela leitura, a um bom livro; a conhecer a preparação das plantas e da regra de convivência na cidade.
Que passos foram dados para a concretização do projecto?
Temos o projecto feito. Contamos com o apoio do professor Luís Magalhães, que tem estado a dar esse apoio. Posteriormente vamos associar a cidade. Queremos associar também o governo local. Quanto mais jovens conseguirmos ocupar, significa que reduziremos os actos de delinquência nas ruas durante o tempo de ocupação.