Africa Basquetebol

29 dezembro 2006

MOÇAMBIQUE : Rescaldo do Nacional Feminino - ISPU : a infeliz mania de sempre morrer na praia


AO que tudo parece, já está a virar mania. Uma mania que até pode ser perniciosa para o próprio ISPU. Amania de sempre morrer na praia e no momento da verdade vergar perante o incandescer das "locomotivas". A questão pertinente que se coloca, no epílogo do recente Campeonato Nacional de Basquetebol de Seniores Femininos, é a seguinte: afinal, o que terá faltado para as "universitárias" não conquistarem o título? Ou formulada doutra forma: o que o Ferroviário teve a mais para categoricamente suplantar um adversário que, a despeito de ter estrelas menos reluzentes, comparativamente às suas, desta vez esteve bem próximo do galarim? Se, por exemplo, na prova anterior, em Quelimane, Armando Meque e suas jogadoras tiveram motivos para realmente tirar o chapéu às verde-e-brancas, sábado passado, os versos do lindo poema da final teriam tido outro tom...

Mas, vejamos os factos, em função das interrogações acima colocadas:

a) primeiro, ao ISPU terá faltado o instinto matador, a atitude ganhadora, o saber se comportar à altura de um verdadeiro campeão e acima de tudo dar o golpe da misericórdia na ocasião oportuna, se tomarmos em linha de conta que esteve em vantagem no marcador durante algum período da contenda. Segundo, incompreensivelmente, tem o receio de ser campeão, de assumir que pode ganhar ao Ferroviário, mesmo reconhecendo-se que este se faz rodear do melhor conjunto do país, ainda mais agora reforçado pela congolesa Pauline Nsimbo, que sem dúvida alguma foi uma mais-valia de peso transcendental.
b) Globalmente, no confronto directo, as "locomotivas" foram mais audazes, perseverantes e com a paciência necessária para aparecer em grande quando as circunstâncias assim o exigiam. Referimo-nos, concretamente, ao prolongamento, altura em que as "universitárias" ficaram completamente inertes, nem qualquer capacidade de acção, nem de reacção, limitando-se a ver as adversárias jogar e marcar a seu bel-prazer. Tremendo castigo para quem esteve à beira de festejar o título, não fosse - importa voltar a referir, sem contudo servir de justificação - o olhar vesgo do árbitro internacional Abreu João, naquele lance envolvendo Vaneza Júnior.

PAGAR PELOS SEUS ERROS


Mas ainda bem que treinador e jogadoras do ISPU reconhecem que, independentemente daquela fatídica jogada, cometeram erros que acabaram por lhes ser fatais. O primeiro período da partida foi absolutamente seu, porém, permitiram a recuperação das oponentes, para uma igualdade a 12 pontos. Depois, porque o Ferroviário nesse aspecto é irrepreensível, nunca mais conseguiram atingir a dianteira, senão o assinalável crescimento no quarto período para o empate (60-60) que forçou o imemorável tempo suplementar para as "universitárias", durante o qual (cinco minutos cheinhos) não lograram marcar sequer um ponto. Como podiam, assim, ser campeãs? Ora, ora, aí está o incompreensível medo da equipa de Armando Meque, perante uma situação tão óbvia como aquela...

À semelhança do Ferroviário, que apesar das inúmeras alternativas no seu plantel preferiu um conjunto reduzido de atletas para fazer a final, também o ISPU não alargou o seu leque, mantendo-se em Tânia Wachene, que se trocava com Amélia Macamo, Ana Branquinho, a espectacular Vaneza Júnior, Aleia Rachide, menos esplendorosa, e Iracema Ndauane. No banco, explorando-se pouco as suas capacidades, após ter sido brilhante no "Africano" de Sub-20, Nádia do Rosário - imaginem que só fez 3.12 minutos em 45 (incrível!!!) - enquanto Eduarda Chongo pode ter acusado a irregularidade na temporada.

Antes de entrar em campo para o embate decisivo, o ISPU foi pautando a sua carreira de forma calculista, aproveitando as facilidades tropicais achadas diante dos seus adversários da primeira fase, em que defrontou os Ferroviários de Nampula e da Beira e o Desportivo, antes de enfrentar o Maxaquene, nas meias-finais.
Mas, num campeonato em que podia ter ganho sem escandalizar a ninguém, ficou a lição de que o receio não pode e nem deve fazer parte de quem se presta a um dia vir a ser rainha...

* ALEXANDRE ZANDAMELA