ANGOLA : Santos Zua - O "poste" hoje ensina crianças na bola ao cesto
Santos Zua é oriundo do bairro da Carreira de Tiro, em Malange. O “gigante” mede dois metros e calça 50. É uma referência do basquetebol nacional e jogou no Petro Atlético de Luanda, Progresso Associação do Sambizanga e mais tarde no Inter Clube. Nasceu a 6 de Junho de 1977 e na infância nunca imaginou ser jogador de basquetebol.
Filho de Maria Kissua Leia e de Ribeiro João, cresceu e estudou no humilde bairro da Carreira de Tiro. Por lá, frequentou o primeiro nível. Durante o período de férias, como era bom aluno e apresentava bons resultados escolares, os pais permitiam-lhe viajar.
A sua primeira grande viagem, em Agosto de 1991, foi a Luanda. “O meu objectivo era simplesmente gozar férias”. Mas acabou por mudar a sua vida. Santos Zua hospedou-se na Terra Nova nas proximidades da Escola Grande, na Rua da Estremadura, em casa do tio materno, Jacinto Kissua Leia.
O bairro é de gente humilde e com forte tradição desportiva. São originários da Terra Nova nomes conhecidos do basquetebol e do futebol angolano tais como Ângelo Vitoriano, Baduna, Fón ou Marito.
A descoberta de Baduna
A altura de Santos Zua impressionou as pessoas, principalmente os adeptos da bola ao cesto. Idemar Vitoriano Baduna ficou impressionado com as características do jovem.
Numa conversa de rua, o antigo craque da selecção elogiou a sua postura física. Mas Santos Zua não tinha noções nenhumas de basquetebol. Baduna convidou-o a assistir a um encontro amigável que se ia realizar durante o fim-de-semana. O jogo foi na catedral do basquetebol do Petro de Luanda, no Eixo Viário.
Atletas, técnicos e dirigentes da equipa petrolífera ficaram impressionados com a estatura e idade de Santos Zua. “Fui bem recebido e disseram-me que tinha características raras para o basquetebol”, salienta. Baduna foi elogiado pela “descoberta”.
O novo talento
Em finais de Agosto de 1991, Santos Ribeiro Zua passou a vestir a camisola do Petro de Luanda nos escalões de iniciados. Por ser caloiro e com performances físicas impressionantes, passou a ter um acompanhamento específico.
O baptismo nas lides da bola ao cesto foi com o treinador Diogo João. Aprendeu a bater a bola, receber, saltar e a correr com ela. Aprendeu também as regras da modalidade e as faltas. Em Dezembro de 1991, o novo talento estava pronto.
Jogou pela primeira vez contra o 1º de Agosto, no pavilhão do Rio Seco, no torneio de fim de ano, na posição de extremo poste. Nesse jogo de estreia ajudou a equipa marcando seis pontos, os primeiros da sua carreira.
Os rasgos elogios de Idemar Vitoriano “Baduna” fizeram com que se empenhasse cada vez mais. Mas como não conhecia a cidade, “não sabia como sair da Terra Nova para o Eixo Viário”. Um dia Baduna faltou aos treinos e Santos Zua também faltou porque não sabia o caminho para o clube. A sua ausência foi motivo de preocupação do treinador Diogo João. Muitos pensaram que tinha desistido. Afinal, apenas tinha medo de se perder na enorme Luanda.
Baduna ensinou-o a apanhar o autocarro 33 dos Transporte Colectivos Urbanos de Luanda (TCUL) que fazia o trajecto Cazenga (Zamba 1), Triângulo dos Congoleses, Mutamba. Descia no Cine Luanda e ia a pé até ao Largo do Kinaxixi e descia o Eixo Viário. Para não perder os pontos de referência, durante a viagem metia a cabeça pela janela do autocarro.
Santos Zua nunca mais se esqueceu do caminho de ida e volta.
A internacionalização
Durante 11 anos, defendeu as cores do Petro Atlético de Luanda e passou por todos os escalões até atingir os seniores em 1998. Em 1995, Santos Zua atingiu o topo na sua carreira desportiva. Foi convocado para a selecção de juniores que ia jogar na Grécia.
Entre os convocados estavam Joaquim Gomes “Kikas”, José Nascimento, Simão Kunga, Simão Panzo e Gustavo. Seguiram-se outras internacionalizações pelo Petro de Luanda e pela selecção no escalão de juniores.
Na caminhada desportiva, cruzou-se nos balneários e nas quadras de jogo com nomes como Carlos Almeida, Armando Biz, Pedro Kialunda, Joaquim Gomes “Kikas”, Jerónimo Neto, João Manuel.
As palavras de Waldemiro Romero
Santos Ribeiro Zua é treinador de basquetebol do Inter Clube e professor no pólo de massificação em Viana. Trata-se de um antigo basquetebolista que agora tem a missão de formar.
Ao longo dos anos tem guardado como atleta o convívio com o categorizado treinador do Petro de Luanda, Waldemiro Romero. “Tenho gravado inúmeras palavras de apreço, carinho e conselhos. Nunca esquecerei o meu professor”.
Zua Responde
Como é que aconteceu a sua saída do Petro?
Foi em Dezembro de 1998, depois do meu regresso da selecção de sub-22 que competiu na Turquia, donde trouxemos a medalha de bronze que corresponde ao terceiro lugar. Já me sentia uma pessoa adulta e responsável pelos meus actos. Mas depois fiquei arrependido. Fui sempre um jogador protegido e bem acompanhado pelos meus colegas e dirigentes. Sabiam das minhas dificuldades em casa.
Qual foi o destino?
Abracei um projecto no Progresso Associação do Sambizanga. Eram jogadores com muito pouco tempo de jogo nas suas equipas. O presidente era George Baptista que hoje é o meu padrinho de casamento. Fui treinando e participei no provincial de Luanda. Mas as coisas não deram certo e fomos todos para o Inter Clube.
Quantas temporadas jogou no Inter?
Joguei sete épocas e fui vice-campeão africano e vice-campeão no nacional da primeira divisão. Em 2005, contraí uma infecção pulmonar que me debilitou fisicamente. Fui para o sanatório mas mandaram-me para casa. Fiz tratamento ambulatório.
Deu por terminada a carreira?
Sim. Lamentavelmente, os médicos disseram-me que já não podia jogar. Foi difícil acreditar. A saúde é prioridade. O Inter avaliou a minha situação nestes 11 anos de trabalho árduo.
Hoje o que lhe resta profissionalmente?
Sou treinador. O clube deu-me formação e estou encarregado da área da formação e massificação do basquetebol do Inter no município de Viana. Devagar, já estamos a colher frutos do nosso trabalho. Está relacionada com a formação de crianças.
Qual é a faixa etáriados alunos?
Trabalhamos com crianças dos oito aos 14 anos de ambos os sexos. Não temos pressa de resultados. Neste momento, temos 37 crianças. Tenho a companhia da minha colega Ana Lemos.
Têm aceitação em Viana?
Temos. É óptimo, apesar de alguns pais ainda interferirem nas preferências dos filhos. Há pais que nos procuram para dizer que os filhos não podem treinar porque têm d afazeres em casa. Isso é mau.
Há incentivos?
Sim. O clube dá diariamente um lanche depois do treino. Oferecemos os ténis e equipamentos para a prática da modalidade.
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