AFROBASKET MAPUTO 2013- Prata com sabor a ouro!
A SELECÇÃO Nacional de basquetebol feminino atingiu o seu principal objectivo, que é a qualificação pela primeira vez para o Mundial-2014, a disputar-se próximo ano na Turquia. Apesar de ter não ter conseguido sagrar-se campeã africana da modalidade, ao perder, ontem à noite, com Angola, por 64-61, na final do Afrobasket disputado no pavilhão do Maxaquene, Moçambique vai estar entre a nata do basquetebol Mundial.
Com a derrota, a Selecção Nacional não conseguiu quebrar o enguiço no objectivo que persegue há décadas. Esta é a terceira vez que Moçambique perde em finais curiosamente realizadas em Maputo. Perdeu as finais com ex-Zaíre e Nigéria, respectivamente em 1986 e 2003.
Contrariamente ao que sucedeu nos quartos-de-final e nas meias-finais, durante as quais a turma moçambicana soube dar a volta ao resultado no último período, a equipa de todos nós não conseguiu manter a vantagem que detinha até ao último minuto da partida, permitindo que Angola empatasse (54-54) a 17 segundos do fim, com algumas faltas de palmatória que conferiram às angolanas lançamentos livres e não perdoados. A “veterana” Clarisse Machanguana atingiu o limite de faltas (cinco) neste último período e, por força disso, foi obrigada a abandonar as quatro linhas e Moçambique perdia uma das suas peças fundamentais tanto a defender, como a atacar.
Com a igualdade ao fim do tempo regulamentar, o título seria decidido nos cinco minutos de prolongamento, durante os quais a Selecção Nacional ficou sem mais uma das suas atletas mais importantes. Leia Dongue atingiu a quinta falta e, na sequência disso, a espinha dorsal da selecção ficou partida. A selecção angolana aproveitou-se disso e, com muita garra, obrigou ainda mais a equipa moçambicana a cometer mais faltas, que valeram mais lançamentos livres, dai que voltou a colocar-se em vantagem no marcador (58-54), nos minutos iniciais do prolongamento. Daqui para a frente assistiu-se a uma forte luta, com Moçambique a conseguir reduzir a diferença para um ponto (58-57), com o triplo de Anabela Cossa. Porém, porque estávamos perante um adversário muito forte e, por sinal, detentor do título, as coisas complicaram-se mais para a Selecção Nacional, que foi forçada a cometer mais faltas com direito a lançamentos livres. Aliás, com duas atletas fora por terem atingido o limite de faltas, Moçambique foi penalizado a dobrar pelas faltas cometidas e numa altura em que o jogo caminhava para o fim. A armadora do jogo moçambicano, Deolinda Ngulela, esteve igualmente em risco de atingir o limite de faltas e, por conseguinte, Angola continuou à frente do marcador até aos derradeiros minutos.
Com muito esforço, a turma moçambicana foi atrás do prejuízo, até chegou a estar a um ponto do alcance das angolanas, mas estas conseguiram um triplo que colocou-as a vencer por 63-60. Mas como não parasse de cometer faltas, Angola marcou mais, fixando o resultado final em 64-61, tornando-se pela segunda vez consecutiva campeã africana, depois de o feito no Mali, em 2012.
A vitória angolana valeu muito pela forma como soube defender a sua zona, não dando muito espaço de manobra a Clarisse Machanguana, que se diga de passagem, esteve apagada, tendo pouco acertado no “saco”. Leia Dongue lutou que se fartou e conseguiu alguns pontos que elevaram a contagem moçambicana, mas estava bem fechada, dai que poucas vezes teve sucesso nos ressaltos ofensivos.
As angolanas souberam ainda aproveitar-se das falhas moçambicanas. Fazendo um jogo de paciência e de muita inteligência nos minutos cruciais. As tentativas de acertar a partir de fora do grande círculo não surtiram muito efeito.
Mesmo assim, exibiram-se a um nível aceitável, pelo que saíram do primeiro período a vencer por 15-14, empatando o segundo por 29-29. Angola esteve pela primeira vez à frente do marcador no fim do terceiro período, vencendo por 44-40. O empate voltou a prevalecer no último, tendo as angolanas se adiantado já no prolongamento.
Contudo, Moçambique saiu deste Afrobasket com orgulho pelo facto de ter demonstrado uma forte postura e ter conseguido superar grandes selecções tais como Senegal, Nigéria e Camarões, estas duas últimas nos “quartos” e meias-finais.
VITÓRIA SOBRE CAMARÕES AO CAIR DO PANO
Tal como aconteceu nos quartos-de-final frente à Nigéria, a Selecção Nacional teve uma meia-final muito sofrida e que foi ganha ao cair do pano, ou seja no último minuto do derradeiro quarto período. O desespero havia tomado conta da equipa. Moçambique partiu para o último período em desvantagem, ou seja em nenhuma das três fases anteriores esteve à frente no marcador, facto que revelou a superioridade das camaronesas em campo. A equipa de todos nós ressentia-se de algum nervosismo, falhando de forma incrível a finalização mesmo em situações de vantagem numérica. Os Camarões entraram de forma empolgante e muito cedo adiantaram-se no marcador, com a super-talentosa extrema Ramses Di a criar dores de cabeça à defesa moçambicana, com perfurações à zona a provocar muitas faltas para lançamentos livres e a impecável nos lançamentos triplos. Explorando muito bem a sua melhor condição física, Alina Nicole e Hermine ganharam muitos ressaltos e foi preciso chamar a “veterana” Clarisse Machanguana, que, com a sua altura, empreendeu uma forte luta para travar as investidas junto ao garrafão. E arrancava para a zona da finalização quando a equipa descesse para o ataque. Neste período, a equipa de todos nós não acertava nos passes, oferecendo a bola ao adversário, que, em resposta, partia em contra-ataques rápidos para encestar. Com muita facilidade, os Camarões venceram o primeiro período por 23-9, anunciando um certo favoritismo na transição à final.
A Selecção Nacional esforçou-se tanto para alterar o cenário desfavorável dentro do rectângulo do jogo, mas as camaronesas revelaram-se muito fortes técnica e tacticamente e aproveitaram da desconcentração que tomou conta da equipa, com a pressão ao homem, o que não facilitava as manobras ofensivas à turma de casa. Aliado a isto, cometia muitas faltas, que valeram muitos lances livres e bem convertidos, para além de alguma precipitação quando tentasse sair da sua zona, perdendo infantilmente a posse de bola. Mesmo assim, com alguma mestria da Clarisse Machanguana, que teve 11 pontos no segundo período contra 13 da camaronesa Ramses Di. Com algum esforço, Moçambique marcou 24 contra 37 do adversário ao fim do segundo período.
A resposta moçambicana teve peso a partir do terceiro período, quando Valerdina Manhonga e Deolinda Ngulela finalmente acertaram nos lançamentos triplos, depois de várias tentativas. Com estas investidas, enquanto Clarisse marcava mais dois, o que permitiu Moçambique concluir este período com a desvantagem reduzida para 37-45.
O favoritismo dos Camarões acabaria sendo quebrado no derradeiro período, quando a extremo poste Leia Dongue chamou a si os seus créditos, depois de várias tentativas inglórias. Sofreu muita oposição, dai que não se evidenciou tanto nos ressaltos, mas acabaria demonstrando as suas qualidades técnicas com perfurações que lhe permitiram marcar 16 pontos para Moçambique. Odélia Mafanela não ficou de fora neste desdobramento da equipa moçambicana, que já havia se reencontrado, com belíssimas defesas e arranques esporádicos para a finalização. Decorria penúltimo minuto quando pela primeira vez a equipa moçambicana adiantou-se no marcador, com 53-52, seguidos de 54-52 e 58-54 à entrada do último minuto. Faltavam 10 segundos quando a nossa equipa elevou para 61, contra 57, quebrando por definitivo o rumo dos acontecimentos que colocavam Moçambique em desvantagem.
SALVADOR NHANTUMBO
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