Africa Basquetebol

16 outubro 2009

AFROBÁSQUETE MADAGÁSCAR-2009 - Abençoado seja o nosso Índico

O OCEANO Índico é vasto. Vastíssimo. Banha países e continentes. Alguns desses países presentes no Afrobásquete Madagáscar-2009 e que a partir desta tarde, com a efectivação dos quartos-de-final, procuram alcançar o disputadíssimo título. No entanto, nós somos a pérola. A pérola deste Índico que se agiganta para uma conquista cuja hegemonia se reparte entre Senegal, Mali e Nigéria. O sonho de Moçambique ver consumado esse sublime objectivo passa, primeiro que tudo, por remover o grande obstáculo que enfrenta hoje e que dá pelo nome de Angola, uma formação hercúlea e que em Antananarivo vem realizando um campeonato a todos os títulos extraordinário.
Maputo, Sexta-Feira, 16 de Outubro de 2009:: Notícias


Quando forem 15.00 horas locais (14.00 de Maputo), dar-se-á início a esse duelo que se perspectiva electrizante, entre dois conjuntos que se conhecem perfeitamente e que, entre eles, a rivalidade extravasa todo o tipo de fronteiras.

Subindo e descendo juntas as escadas ou o elevador do Hotel Tana Plaza, na super concorrida Avenida da Independência, no coração da capital malgaxe, ou então partilhando a mesma sala de refeições, aparentemente nada conjecturava um frente-a-frente entre moçambicanas e angolanas, que estavam em grupos distintos. O percurso das “palancas”, apesar de enfrentarem as “feras” do continente, foi de tal modo brilhante que terminaram empatadas com malianas e marfinenses, porém, sofrendo no capítulo do “cesto-average”, facto que acabou ditando o encontro com o seu “indesejável” adversário do Índico.

A apreensão é mútua. As duas selecções fecharam a primeira fase com actuações de grande nível: Moçambique diante de Madagáscar com uma espectacular vitória por 71-59 e Angola face à Nigéria, na sequência de um brilhante quarto período que levou ao triunfo pela marca de 60-45. São dados que certamente as equipas procurarão capitalizar, embora os adversários e as situações sejam diferentes, até porque, no caso concreto, trata-se dos quartos-de-final e uma derrota é sinónimo irremediável de despedida da luta pelo ceptro.

A DEBUTANTE LEIA

À excepção do confrangedor confronto com as senegalesas, no qual as nossas atletas não tiveram reacção rigorosamente nenhuma, as moçambicanas têm, de uma forma global, sabido se comportar a contento. Frente às Maurícias tudo foi bastante fácil, mas, nos outros encontros, os desafios se revelaram muito difíceis, tendo sido necessário, invariavelmente, recorrer à recuperação no marcador para chegar ao triunfo. E, em qualquer dos casos, foi uma recuperação executada com perfeição, respondendo a equipa com galhardia e um excepcional poder de “matar” no momento decisivo.

Das unidades frequentemente utilizadas, se jogadoras como Ana Flávia Azinheira, Valerdina Manhonga, Aleia Rachide e Anabela Cossa são por demais conhecidas na nomenclatura da selecção e a sua actuação não é de espantar, as maiores honras desta equipa vão, indubitavelmente, para a debutante Leia Dongue, que tem sido excepcional, “baptizando-se” no Afrobásquete de forma destemida. Com uma grande capacidade de penetração e perspicácia debaixo da tabela, tem sido uma verdadeira dona e senhora das situações, com conversões por vezes incríveis. Tanucha, como é também conhecida, vezes há em que, inesperadamente, se dá ao luxo de protagonizar casos inesperados, como foi, por exemplo, diante das malgaxes, quando, dentro da linha dos 6.25 metros, preferiu sair para um triplo que deixou “todo o mundo” embasbacado.

Mas n\ao é somente ela em destaque como estreante no Afrobásquete. Cátia Halar e Odélia Mafanela têm sido espectaculares, mas com uma diferença: a primeira, introvertida e a não dar muito nas vistas, todavia, magnífica nos lançamentos – foi uma das que “liquidaram” as anfitriãs com os seus triplos – e no trabalho do jogo exterior, auxiliando sobremaneira as bases; e a segunda, mais extrovertida, dinâmica nos ressaltos e força nos impulsos, mas demasiado abaixo das expectativas no que diz respeito à concretização. Odélia, inclusive, desperdiça oportunidades de bradar os céus.

Filomena Micato, fabulosa diante das mauricianas e com triplos que ajudaram a crescer os números até à centena, peca por querer fazer tudo igual em todos os jogos. Isto é, tenta em vão três/quatro ocasiões fora dos 6.25 metros, mas, incrivelmente, insiste no mesmo diapasão, acabando por deitar abaixo óptimas situações de fazer jogar a equipa. Ana Branquinho já não tem a mesma “manga” doutros tempos, mas, quando sina a acompanha, não tem oposição. Ondina Nhampossa, Marta Ganje e Amélia Macamo são opções em relação às quais o treinador recorre poucas vezes.

* ALEXANDRE ZANDAMELA, em Antananarivo