ANGOLA : Entrevista a Emanuel Trovoada
Emanuel Trovoada, o técnico da equipa Sénior Masculina de Basquetebol do Clube Desportivo da Huíla, estreia-se na presente época no campeonato nacional da modalidade. Trovoada aceitou o convite e veio, deixando para trás a Selecção de Cabo Verde, com a qual conseguiu conquistar o terceiro lugar no último Afrobasket que Angola organizou e venceu. Nesta entrevista ao JD, Trovoada disse que se sente bem no Lubango e está expectante em relação ao projecto que lidera. Simples e comunicativo, Trovoada acedeu ao convite e de maneira “informal” conversou com o repórter. Acompanhe a entrevista conduzida por Morais Canâmua, no Lubango.
Jornal dos Desportos (JD) - Qual a apreciação que se lhe oferece fazer da participação do Clube Desportivo da Huíla no Campeonato Nacional de Basquetebol em seniores masculino? Emanuel Trovoada (ET) - O balanço é de todo positivo para uma equipa que nasceu há sensivelmente 4 meses, quase já em cima do início do campeonato nacional. Há também a referenciar que muitos dos jovens que aqui estão haviam sido preteridos e desprezados nos clubes onde estavam. Tenho a certeza que ninguém acreditava no potencial de muitos deles. Com as boas condições que a direcção do clube nos proporciona e com todas essas condições de trabalho, labutamos normalmente. Por isso, dizemos que o balanço é positivo. Temos consciência de que estamos a viver um período bom, mas tudo iremos fazer, com a nossa humildade, para continuarmos a aprender com as melhores equipas e também com aquelas que estão abaixo de nós.
JD - Qual tem sido a estratégia utilizada para que a rentabilidade da sua equipa esteja acima da média, pelo menos naquilo que é a postura competitiva com outras equipas do campeonato? ET - O segredo, como deve calcular, é o trabalho. Encontramos um bom grupo de trabalho, com muita vontade de querer aprender. Nós também aprendemos todos os dias com eles. A força de vontade que esses jovens têm em quererem entrar para a história do basquetebol angolano, é grande. Até porque cada um deles ambiciona um dia representar a nossa selecção. A direcção do clube tem proporcionado igualmente um grande impulso, criando condições óptimas. Temos vindo, a cada dia, a acumular experiências com as melhores equipas do nosso campeonato. Tudo isso, com trabalho, é, de facto, a alma do nosso sucesso. Vamos procurando fazer aquilo que nos cabe a responsabilidade.
JD - Sendo assim a integração tem sido fácil?ET - É evidente que temos consentido alguns sacrifícios. Todos os dias os atletas acordam pensando que é preciso melhorar em cada erro que cometemos, quer nos jogos quer nos treinos e ter essa humildade e a força de vontade de podermos trabalhar e chegar um pouco mais longe daquilo que foi projectado.
Bom filho regressa a casa
JD – Acha ser uma grande escolha, ter trocado a selecção de Cabo Verde por uma equipa modesta, do interior de Angola? ET- Não. Eu não troquei a selecção de Cabo Verde por isso. Sabia que, dentro da selecção de Cabo Verde o projecto era aberto e poderia treinar uma equipa. Agora fiquei bastante lisonjeado, primeiro pelo excelente convite que Sua Excelência o General Francisco Furtado e as direcções do 1º de Agosto e do Desportivo da Huíla me fizeram. Fiquei de facto muito emocionado em regressar à minha terra e também poder colaborar no desenvolvimento do desporto. Por outro lado, nunca irei esquecer Cabo Verde, pois foi ali onde me fiz como treinador e onde ganhei toda essa experiência que acumulo. Deixei um projecto escolar bastante ambicioso. Repare que Cabo Verde tem neste momento mais de 20 jovens de 1,90 a 2,06 Metros. Isto foi fruto de um trabalho que desenvolvemos ao longo do tempo que lá estivemos. Gostaria, muito sinceramente de prosseguir com esta vontade aqui no meu País, principalmente descobrindo valores aqui na nossa província do Cunene.
JD - Pelos vistos está a gostar de estar no Lubango? ET - Sim. Fui muito bem recebido. Tenho tido carinho de todo mundo. Já fiz muitas amizades. Acho que a minha resposta tem sido, dedicar-me de corpo e alma neste apaixonante projecto.
“ A qualidade do plantel é razoável”
JD - A qualidade do plantel, do ponto de vista técnico-atlético e competitivo é boa por aquilo que são as exigências do campeonato, isto em relação às equipas do topo? ET - Como sabe, há aqui jovens com muita carência técnica e ainda outros com algumas dificuldades de adaptação em sistemas tácticos, mas a sua força de vontade, a sua dedicação, o querer aprender, proporcionam que a equipa suba constantemente. Nesse momento estamos a 50 por cento daquilo que pretendemos. Os atletas têm sido rápidos para assimilar tudo o que treinamos. Por tudo isso, exigimos deles maior concentração, humildade e crer.
JD - O factor psicológico também tem sido levado em conta…ET – Exactamente. O contrário não podia ser. Temos incentivado esses jovens por formas a que possam ver que eles também têm um espaço no nosso basquetebol.
JD - Sei que não escolheu este plantel, apenas optou por um único atleta. Está satisfeito com o grupo que encontrou? ET – Sim. Estou satisfeito com o plantel. Vim encontrar gente com muita força de vontade e humildade. Sei que são jogadores ainda com algumas carências, mas esperamos que até o fim da época tudo venha a melhorar, quer no capítulo técnico como táctico para que nos próximos anos possamos aparecer mais fortes.
JD - Qual é a perspectiva da equipa em termos de classificação no campeonato nacional? E T - Olhe, o que nos foi pedido no início é que seria uma equipa que participaria no campeonato nacional, como estreante, mas conseguimos, graças ao nosso trabalho, nos situar entre os primeiros seis classificados. Tudo iremos fazer para nos manter neste grupo. Continuaremos a trabalhar com humildade, respeitando os nossos adversários para que possamos dar uma alegria não só à direcção do clube que, praticamente não contava com isso, mas também ao próprio basquetebol angolano que ganha uma nova equipa fora de Luanda, estar dentro das seis melhores equipas nacionais.
JD – Qual é o seu sentimento ao saber que na sua equipa não existe qualquer basquetebolista nato da terra? ET - Não. Felizmente já temos três jovens na equipa que são de cá do Lubango. Estamos inclusivamente a trabalhar outros. Já sabíamos que no início seria assim. Eram as próprias dificuldades que o projecto previa. Temos estado a fazer prospecção na região do Cunene e mesmo aqui na cidade do Lubango, no sentido de descobrirmos outros valores para que num futuro próximo, ao invés de estarem três jovens, aparecerem muito mais. Vamos continuar a trabalhar para isso, pois assim consagra o projecto.
Região Sul pode ser potência nacional
JD - Quanto ao alargamento do projecto de massificação da modalidade, o que já se fez concretamente? ET - Sempre que posso, tenho estado a acompanhar algumas partidas de basquetebol de rua, de alguns grupos de jovens. É de facto aí onde vamos descobrir talentos. Já descobri alguns. Estou também com um grupo de miúdos dos 15 e 16 anos de idade que estão interessados em formar uma equipa de iniciados e juvenis para o Desportivo da Huíla. Tenho estado a conversar com a direcção para que os juniores possam continuar no clube. Por outro lado, tenho um projecto meu, na bagagem, espero implementá-lo aqui.
JD - Em que se substancia o seu projecto? ET - É um projecto escolar que teve, por sinal, muito sucesso em Cabo Verde. Tenho este projecto que, acredito, irá proporcionar muitos talentos ao basquetebol angolano. Já manifestei a ideia à Associação Provincial da modalidade. Ficou marcado brevemente um encontro para discutirmos juntos. Infelizmente, não temos encontrado muito tempo. O nosso calendário de jogos para o campeonato nacional é muito apertado porque quase todas as equipas com quem jogamos, estão em Luanda. De resto, vamos sentar com os agentes associativos e também da Delegação de Educação na Huíla onde, em colaboração com alguns atletas e técnicos locais, tentaremos implementar para o bem do basquetebol huilano em particular e angolano em geral.
JD - Sei que o calendário de jogos do campeonato tem sido bastante apertado e intenso. Qual é a sua opinião em relação a esse pormenor? ET - De facto é muito intenso. Repare que, por exemplo, tivemos há dias três jogos com as três principais equipas do campeonato – Interclube, Petro de Luanda e 1º de Agosto – em três dias seguidos. Abstenho-me de comentar! O que lhe devo dizer é que temos que participar da melhor forma possível. Entendemos que a federação tem um dilema muito grande; Angola está prestes a participar dos Jogos Olímpicos de Pequim e precisa naturalmente de tempo para preparar a Selecção Nacional de Basquetebol para que esteja na sua máxima força. Temos que aceitar isso de bom grado. As outras equipas também têm estado a jogar. Temos tido desgastes muito grandes, mas devemos reconhecer que a resposta que a nossa rapaziada tem dado é boa.
JD - Tem sobressaído igualmente um contraste muito grande entre aquilo que tem sido o volume de jogos e a fraca experiência dos atletas que compõem a sua equipa? ET - Sem dúvidas nenhumas isso se verifica, mas nós, os técnicos, temos a experiência necessária para fazermos a gestão do plantel para que possamos tirar o máximo rendimento dos nossos atletas. Não podemos nem chorar nem lamentar perante essa realidade. Contudo, temos de dizer também que é uma sobrecarga muito grande para os atletas que mais tarde ou mais cedo terá a sua repercussão. Já tivemos inclusive atletas com problemas físicos em consequência disso. Tal como já disse, não podemos lamentar porque é um campeonato igual a todos os outros.
JD - Qual é a sua perspectiva em relação à modalidade? ET - É um desporto educativo, formativo, para além de ser um que anima a juventude e não só. Portanto, é um desporto saudável que podemos tirar o rendimento quer em termos desportivos para que os jogadores possam evoluir e jogarem num nível superior, em selecções ou noutros clubes de maior projecção, da mesma forma que possamos passar uma imagem positiva de que nada é fácil. Tudo se conquista com trabalho para que no futuro eles possam ter uma vida mais facilitada. O melhor disso tudo é a amizade que forjamos entre nós, atletas, treinadores, enfim…
JD - Há saúde no balneário do Desportivo da Huíla. Há coesão e espírito de camaradagem? ET - Diria que há e que isso é que tem sido a nossa grande vantagem. Somos muito unidos. Respiramos um bom ar. Somos muito amigos uns dos outros e tentamos tirar o maior proveito disso.
“Público lubanguense tem muito carinho por nós”
JD - Tem estado a gostar da participação do público lubanguense quer nos jogos, como até nos treinos onde marca presença massiva? ET - Só tenho a agradecer. Realmente é fantástico. A cada momento de jogo ou de treino, vai aparecendo mais gente no pavilhão. A cada dia recebemos mensagens de apoio, de carinho e de afecto. Portanto, as pessoas sabem que esta equipa é nova. Sabemos que todavia temos muitos problemas que temos que resolver. Vamos resolvendo calmamente. O importante é que essa juventude venha aos treinos e que nós no futuro, com essa mensagem que estamos a passar dentro do campo, temos consciência que temos estado a dar o melhor de nós.
JD – Foi técnico da Selecção de Cabo verde, terceira classificada no último Afrobasket. Já pensou em alguma instância conferir conhecimentos aos técnicos locais para que o desenvolvimento da modalidade a nível da região seja mais equilibrado? ET - Sim. Tenho estado a conversar com vários técnicos de outras equipas para fazermos isso. Conversei há dias com o técnico do Interclube, Manuel de Sousa “Necas”, bem como com o professor Luís Magalhães, do 1º de Agosto, para que nos pudesse ajudar, passando a sua experiência também e fazermos aqui uma acção de formação para relançarmos a modalidade e revitalizarmos muitos técnicos, que ainda andam escondidos, e desta forma participarem no desenvolvimento da modalidade.
JD - Qual a sua opinião sobre o aproveitamento que têm tido as infra-estruturas desportivas construídas e reabilitadas durante o Afrobasket? ET - Em termos de basquetebol, temos estado a tirar o maior rendimento possível. Esperamos utilizar mais o pavilhão multi-uso. Acreditamos que existem muitos jovens que gostam de praticar a modalidade, então entendemos que é preciso darmos espaço à essas vontades. Devo dizer que foi uma visão bem sucedida da Federação Angolana de Basquetebol que soube tirar os maiores ganhos com a realização do Afrobasket aqui no país. Para isso, creio que temos estado a ajudar, treinando e ajudando com a qualidade de basquetebol que temos estado a apresentar para que, ao colocarmos tudo isso numa panela, possamos fazer sair uma muamba a boa maneira angolana.
Quem é Emanuel Trovoada
Chama-se Emanuel Salustino Castelo David da Graça Trovoada e tem 40 anos de idade, mais de metade dos quais dedicados à uma modalidade em que sempre se ligou. É natural de Benguela, onde iniciou a sua carreira desportiva. Em 1986 jogou no Sporting de Benguela. Muito cedo rumou para Portugal onde representou o Sporting de Portugal e o Benfica de Lisboa, numa primeira fase, para depois envergar a camisola do Atlético Campolide e, mais tarde ainda, o Ginásio Figueirense. A carreira de treinador começou ainda muito jovem, começando pelos juniores do Atlético de Lisboa. Em 1999 segue para Cabo Verde, onde foi técnico-adjunto da selecção daquele país até que em 2002, foi convidado a ser o técnico principal. Para além da selecção, treinou ainda a equipa do Pantera Negra do Sal, mas devido ao regime contratual com a Federação de Basquetebol de Cabo Verde, foi obrigado a abandonar. Foi o principal responsável da terceira posição alcançada pela selecção daquele país no recém terminado Afrobasket que Angola albergou, em Agosto último. Firmou contrato com o Clube Desportivo da Huíla, cuja duração não foi todavia divulgado, mas por aquilo que são as perspectivas, estima-se que seja para curto e médio prazos.
Jornal dos Desportos (JD) - Qual a apreciação que se lhe oferece fazer da participação do Clube Desportivo da Huíla no Campeonato Nacional de Basquetebol em seniores masculino? Emanuel Trovoada (ET) - O balanço é de todo positivo para uma equipa que nasceu há sensivelmente 4 meses, quase já em cima do início do campeonato nacional. Há também a referenciar que muitos dos jovens que aqui estão haviam sido preteridos e desprezados nos clubes onde estavam. Tenho a certeza que ninguém acreditava no potencial de muitos deles. Com as boas condições que a direcção do clube nos proporciona e com todas essas condições de trabalho, labutamos normalmente. Por isso, dizemos que o balanço é positivo. Temos consciência de que estamos a viver um período bom, mas tudo iremos fazer, com a nossa humildade, para continuarmos a aprender com as melhores equipas e também com aquelas que estão abaixo de nós.
JD - Qual tem sido a estratégia utilizada para que a rentabilidade da sua equipa esteja acima da média, pelo menos naquilo que é a postura competitiva com outras equipas do campeonato? ET - O segredo, como deve calcular, é o trabalho. Encontramos um bom grupo de trabalho, com muita vontade de querer aprender. Nós também aprendemos todos os dias com eles. A força de vontade que esses jovens têm em quererem entrar para a história do basquetebol angolano, é grande. Até porque cada um deles ambiciona um dia representar a nossa selecção. A direcção do clube tem proporcionado igualmente um grande impulso, criando condições óptimas. Temos vindo, a cada dia, a acumular experiências com as melhores equipas do nosso campeonato. Tudo isso, com trabalho, é, de facto, a alma do nosso sucesso. Vamos procurando fazer aquilo que nos cabe a responsabilidade.
JD - Sendo assim a integração tem sido fácil?ET - É evidente que temos consentido alguns sacrifícios. Todos os dias os atletas acordam pensando que é preciso melhorar em cada erro que cometemos, quer nos jogos quer nos treinos e ter essa humildade e a força de vontade de podermos trabalhar e chegar um pouco mais longe daquilo que foi projectado.
Bom filho regressa a casa
JD – Acha ser uma grande escolha, ter trocado a selecção de Cabo Verde por uma equipa modesta, do interior de Angola? ET- Não. Eu não troquei a selecção de Cabo Verde por isso. Sabia que, dentro da selecção de Cabo Verde o projecto era aberto e poderia treinar uma equipa. Agora fiquei bastante lisonjeado, primeiro pelo excelente convite que Sua Excelência o General Francisco Furtado e as direcções do 1º de Agosto e do Desportivo da Huíla me fizeram. Fiquei de facto muito emocionado em regressar à minha terra e também poder colaborar no desenvolvimento do desporto. Por outro lado, nunca irei esquecer Cabo Verde, pois foi ali onde me fiz como treinador e onde ganhei toda essa experiência que acumulo. Deixei um projecto escolar bastante ambicioso. Repare que Cabo Verde tem neste momento mais de 20 jovens de 1,90 a 2,06 Metros. Isto foi fruto de um trabalho que desenvolvemos ao longo do tempo que lá estivemos. Gostaria, muito sinceramente de prosseguir com esta vontade aqui no meu País, principalmente descobrindo valores aqui na nossa província do Cunene.
JD - Pelos vistos está a gostar de estar no Lubango? ET - Sim. Fui muito bem recebido. Tenho tido carinho de todo mundo. Já fiz muitas amizades. Acho que a minha resposta tem sido, dedicar-me de corpo e alma neste apaixonante projecto.
“ A qualidade do plantel é razoável”
JD - A qualidade do plantel, do ponto de vista técnico-atlético e competitivo é boa por aquilo que são as exigências do campeonato, isto em relação às equipas do topo? ET - Como sabe, há aqui jovens com muita carência técnica e ainda outros com algumas dificuldades de adaptação em sistemas tácticos, mas a sua força de vontade, a sua dedicação, o querer aprender, proporcionam que a equipa suba constantemente. Nesse momento estamos a 50 por cento daquilo que pretendemos. Os atletas têm sido rápidos para assimilar tudo o que treinamos. Por tudo isso, exigimos deles maior concentração, humildade e crer.
JD - O factor psicológico também tem sido levado em conta…ET – Exactamente. O contrário não podia ser. Temos incentivado esses jovens por formas a que possam ver que eles também têm um espaço no nosso basquetebol.
JD - Sei que não escolheu este plantel, apenas optou por um único atleta. Está satisfeito com o grupo que encontrou? ET – Sim. Estou satisfeito com o plantel. Vim encontrar gente com muita força de vontade e humildade. Sei que são jogadores ainda com algumas carências, mas esperamos que até o fim da época tudo venha a melhorar, quer no capítulo técnico como táctico para que nos próximos anos possamos aparecer mais fortes.
JD - Qual é a perspectiva da equipa em termos de classificação no campeonato nacional? E T - Olhe, o que nos foi pedido no início é que seria uma equipa que participaria no campeonato nacional, como estreante, mas conseguimos, graças ao nosso trabalho, nos situar entre os primeiros seis classificados. Tudo iremos fazer para nos manter neste grupo. Continuaremos a trabalhar com humildade, respeitando os nossos adversários para que possamos dar uma alegria não só à direcção do clube que, praticamente não contava com isso, mas também ao próprio basquetebol angolano que ganha uma nova equipa fora de Luanda, estar dentro das seis melhores equipas nacionais.
JD – Qual é o seu sentimento ao saber que na sua equipa não existe qualquer basquetebolista nato da terra? ET - Não. Felizmente já temos três jovens na equipa que são de cá do Lubango. Estamos inclusivamente a trabalhar outros. Já sabíamos que no início seria assim. Eram as próprias dificuldades que o projecto previa. Temos estado a fazer prospecção na região do Cunene e mesmo aqui na cidade do Lubango, no sentido de descobrirmos outros valores para que num futuro próximo, ao invés de estarem três jovens, aparecerem muito mais. Vamos continuar a trabalhar para isso, pois assim consagra o projecto.
Região Sul pode ser potência nacional
JD - Quanto ao alargamento do projecto de massificação da modalidade, o que já se fez concretamente? ET - Sempre que posso, tenho estado a acompanhar algumas partidas de basquetebol de rua, de alguns grupos de jovens. É de facto aí onde vamos descobrir talentos. Já descobri alguns. Estou também com um grupo de miúdos dos 15 e 16 anos de idade que estão interessados em formar uma equipa de iniciados e juvenis para o Desportivo da Huíla. Tenho estado a conversar com a direcção para que os juniores possam continuar no clube. Por outro lado, tenho um projecto meu, na bagagem, espero implementá-lo aqui.
JD - Em que se substancia o seu projecto? ET - É um projecto escolar que teve, por sinal, muito sucesso em Cabo Verde. Tenho este projecto que, acredito, irá proporcionar muitos talentos ao basquetebol angolano. Já manifestei a ideia à Associação Provincial da modalidade. Ficou marcado brevemente um encontro para discutirmos juntos. Infelizmente, não temos encontrado muito tempo. O nosso calendário de jogos para o campeonato nacional é muito apertado porque quase todas as equipas com quem jogamos, estão em Luanda. De resto, vamos sentar com os agentes associativos e também da Delegação de Educação na Huíla onde, em colaboração com alguns atletas e técnicos locais, tentaremos implementar para o bem do basquetebol huilano em particular e angolano em geral.
JD - Sei que o calendário de jogos do campeonato tem sido bastante apertado e intenso. Qual é a sua opinião em relação a esse pormenor? ET - De facto é muito intenso. Repare que, por exemplo, tivemos há dias três jogos com as três principais equipas do campeonato – Interclube, Petro de Luanda e 1º de Agosto – em três dias seguidos. Abstenho-me de comentar! O que lhe devo dizer é que temos que participar da melhor forma possível. Entendemos que a federação tem um dilema muito grande; Angola está prestes a participar dos Jogos Olímpicos de Pequim e precisa naturalmente de tempo para preparar a Selecção Nacional de Basquetebol para que esteja na sua máxima força. Temos que aceitar isso de bom grado. As outras equipas também têm estado a jogar. Temos tido desgastes muito grandes, mas devemos reconhecer que a resposta que a nossa rapaziada tem dado é boa.
JD - Tem sobressaído igualmente um contraste muito grande entre aquilo que tem sido o volume de jogos e a fraca experiência dos atletas que compõem a sua equipa? ET - Sem dúvidas nenhumas isso se verifica, mas nós, os técnicos, temos a experiência necessária para fazermos a gestão do plantel para que possamos tirar o máximo rendimento dos nossos atletas. Não podemos nem chorar nem lamentar perante essa realidade. Contudo, temos de dizer também que é uma sobrecarga muito grande para os atletas que mais tarde ou mais cedo terá a sua repercussão. Já tivemos inclusive atletas com problemas físicos em consequência disso. Tal como já disse, não podemos lamentar porque é um campeonato igual a todos os outros.
JD - Qual é a sua perspectiva em relação à modalidade? ET - É um desporto educativo, formativo, para além de ser um que anima a juventude e não só. Portanto, é um desporto saudável que podemos tirar o rendimento quer em termos desportivos para que os jogadores possam evoluir e jogarem num nível superior, em selecções ou noutros clubes de maior projecção, da mesma forma que possamos passar uma imagem positiva de que nada é fácil. Tudo se conquista com trabalho para que no futuro eles possam ter uma vida mais facilitada. O melhor disso tudo é a amizade que forjamos entre nós, atletas, treinadores, enfim…
JD - Há saúde no balneário do Desportivo da Huíla. Há coesão e espírito de camaradagem? ET - Diria que há e que isso é que tem sido a nossa grande vantagem. Somos muito unidos. Respiramos um bom ar. Somos muito amigos uns dos outros e tentamos tirar o maior proveito disso.
“Público lubanguense tem muito carinho por nós”
JD - Tem estado a gostar da participação do público lubanguense quer nos jogos, como até nos treinos onde marca presença massiva? ET - Só tenho a agradecer. Realmente é fantástico. A cada momento de jogo ou de treino, vai aparecendo mais gente no pavilhão. A cada dia recebemos mensagens de apoio, de carinho e de afecto. Portanto, as pessoas sabem que esta equipa é nova. Sabemos que todavia temos muitos problemas que temos que resolver. Vamos resolvendo calmamente. O importante é que essa juventude venha aos treinos e que nós no futuro, com essa mensagem que estamos a passar dentro do campo, temos consciência que temos estado a dar o melhor de nós.
JD – Foi técnico da Selecção de Cabo verde, terceira classificada no último Afrobasket. Já pensou em alguma instância conferir conhecimentos aos técnicos locais para que o desenvolvimento da modalidade a nível da região seja mais equilibrado? ET - Sim. Tenho estado a conversar com vários técnicos de outras equipas para fazermos isso. Conversei há dias com o técnico do Interclube, Manuel de Sousa “Necas”, bem como com o professor Luís Magalhães, do 1º de Agosto, para que nos pudesse ajudar, passando a sua experiência também e fazermos aqui uma acção de formação para relançarmos a modalidade e revitalizarmos muitos técnicos, que ainda andam escondidos, e desta forma participarem no desenvolvimento da modalidade.
JD - Qual a sua opinião sobre o aproveitamento que têm tido as infra-estruturas desportivas construídas e reabilitadas durante o Afrobasket? ET - Em termos de basquetebol, temos estado a tirar o maior rendimento possível. Esperamos utilizar mais o pavilhão multi-uso. Acreditamos que existem muitos jovens que gostam de praticar a modalidade, então entendemos que é preciso darmos espaço à essas vontades. Devo dizer que foi uma visão bem sucedida da Federação Angolana de Basquetebol que soube tirar os maiores ganhos com a realização do Afrobasket aqui no país. Para isso, creio que temos estado a ajudar, treinando e ajudando com a qualidade de basquetebol que temos estado a apresentar para que, ao colocarmos tudo isso numa panela, possamos fazer sair uma muamba a boa maneira angolana.
Quem é Emanuel Trovoada
Chama-se Emanuel Salustino Castelo David da Graça Trovoada e tem 40 anos de idade, mais de metade dos quais dedicados à uma modalidade em que sempre se ligou. É natural de Benguela, onde iniciou a sua carreira desportiva. Em 1986 jogou no Sporting de Benguela. Muito cedo rumou para Portugal onde representou o Sporting de Portugal e o Benfica de Lisboa, numa primeira fase, para depois envergar a camisola do Atlético Campolide e, mais tarde ainda, o Ginásio Figueirense. A carreira de treinador começou ainda muito jovem, começando pelos juniores do Atlético de Lisboa. Em 1999 segue para Cabo Verde, onde foi técnico-adjunto da selecção daquele país até que em 2002, foi convidado a ser o técnico principal. Para além da selecção, treinou ainda a equipa do Pantera Negra do Sal, mas devido ao regime contratual com a Federação de Basquetebol de Cabo Verde, foi obrigado a abandonar. Foi o principal responsável da terceira posição alcançada pela selecção daquele país no recém terminado Afrobasket que Angola albergou, em Agosto último. Firmou contrato com o Clube Desportivo da Huíla, cuja duração não foi todavia divulgado, mas por aquilo que são as perspectivas, estima-se que seja para curto e médio prazos.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home