Africa Basquetebol

24 outubro 2007

TAÇA DOS CAMPEÕES DE ÁFRICA EM FEMININOS: Encantador voo da “águia”...


NOITES assim, da “bola-ao-cesto”, efectivamente valem a pena. Numa festa de facto à moçambicana, Ferroviário e Desportivo proporcionaram ontem um espectáculo a todos os títulos magnífico, em que todos os condimentos foram expostos nas quatro linhas: muita garra e determinação, lances discutidos até à exaustão, excelentes duelos, pontos obtidos de vários ângulos, técnica apurada e, para não variar em desafios desta índole, rivalidade trazida à tona e alguma malícia, com cotoveladas e sangue de permeio. Enfim, foi um jogo encarado com excessiva responsabilidade pelas artistas de ambas as formações, com as “alvi-negras”, no final, a fazerem a festa, mercê do seu inteligente triunfo por cinco pontos (57-52).
Maputo, Quarta-Feira, 24 de Outubro de 2007:: Notícias


Foi assim a noite espectacular e delirante de ontem, que, surpreendentemente para alguns sectores, terá ditado o primeiro lugar do Grupo “A” para o Desportivo, em detrimento do Ferroviário, sobre quem recaíam todos os prognósticos e conjecturas, mas que neste embate teve um adversário que soube, meritoriamente, utilizar todos os trincos e trancas para fechar as melhores unidades daquele.

Esta quarta jornada da fase final da 13ª edição da Taça dos Campeões de África em Basquetebol de Seniores Femininos marcou, igualmente, a já esperada passagem do ISPU para os quartos-de-final, ao derrotar o Port Authority por 62-34, com o 1º de Agosto também a ganhar folgadamente pela marca de 87-40 diante do Lupopo. Já o Djoliba bateu o ABC por 53-42, acontecendo o mesmo com o Arc-en-Ciel, vencedor diante do Dolphins por 75-67.

Hoje, derradeira jornada da primeira fase, atenção ao 1º de Agosto-First Bank, às 20.00 horas, dois conjuntos que estão em Maputo também com os olhos postos na conquista do ceptro. O dia começa com o jogo entre Lupopo e Port Authority, a partir das 12.00, seguindo-se o Desportivo-ABC (14.00), Dolphins-Djoliba (16.00) e Arc-en-Ciel-Ferroviário (18.00).

TRINCOS & TRANCAS

De facto, a astúcia de Nazir Salé funcionou em pleno. É por demais sabido que, com Carla Silva impossibilitada de emprestar o seu saber basquetebolístico à equipa, por imperativos de lesão no joelho, as principais armadoras do jogo ofensivo do Ferroviário são: Janete Monteiro, que vem fazendo uma prova sem mácula, e Rute Muianga, com altos e baixos. Ora, o técnico do Desportivo destacou duas “polícias” sobre estas unidades pendulares, respectivamente Valerdina Manhonga e Nádia Rodrigues. E o resultado foi realmente o esperado pelas “alvi-negras”: nem Janete nem Rute conseguiram jogar e se assumirem como “pulmão” da equipa, sobretudo a primeira, que nem sequer conseguiu fazer um ponto.

O campeão moçambicano definhou logo à partida, entregando a iniciativa do jogo ao Desportivo. A meio do segundo período, Carlos Aik ainda tentou “assustar” as adversárias, ao fazer entrar Carla, mas debalde, pois, apesar de esta ter entrado de forma leonina, imediatamente com quatro pontos, tal não passou de força de soda, vindo ao de cima as sequelas da lesão ainda não curada totalmente. Mais: a inevitável Deolinda Gimo foi atingida com um punho na boca, levando muito tempo fora da quadra, a ser suturada no lábio superior.

Evidente estava, assim, que o Ferroviário acumulara uma série de contrariedades, umas impostas pelo poderio táctico das “alvi-negras” e outras pelas vicissitudes do próprio jogo. Deste modo, as portas abriram-se de par em par para o Desportivo se assumir como dono e senhor dos acontecimentos, chegando, inclusive, a uma vantagem de 14 pontos, no entanto, mal gerida face à ansiedade das jogadoras de triunfar perante um “time” que dificilmente vencem. Para além da senegalesa Anita Sy (17 pontos), em noite de grande inspiração, Valerdina teve uma acção espectacular, por um lado, ao não ceder espaço a Janete, e, por outro, na condução da equipa, o mesmo sucedendo com Diara Dessai, cuja experiência tem sido extremamente valiosa.

Não fossem algumas tremedeiras – ou até infantilidade e ansiedade desmesurada – bem podia o Desportivo ter ganho por mais de cinco pontos, embora seja de reconhecer a verticalidade das “locomotivas”, mesmo nos momentos críticos, lutando até ao fim. E mais valorizado foi, deste modo, o próprio espectáculo, que se constituiu numa excelente propaganda para esta competição, em particular para o básquete moçambicano aos olhos dos nossos numerosos visitantes.

FICHA DO JOGO

Árbitros: Leslie Cherubin e Kinusien Ojeaburu

FERROVIÁRIO (52) – Stephanie Faulkner (0), Zinóbia Machanguana (0), Rute Muianga (12), Janete Monteiro (0), Tatiana Ismael (0), Carla Silva (4), Júlia Machalela (2), Mónica Naiter (9), Deolinda Gimo (17), Nádia Zucule (65) e Ondina Nhampossa (3)

Treinador: Carlos Aik

DESPORTIVO (57) – Josefina Jafar (0), Anita Sy (17), Salimata Diatta (5), Valerdina Manhonga (9), Anabela Cossa (82), Cátia Halar (4), Diara Dessai (11), Luísa Nhate (1), Crechúlia Mondlane (0), Nádia Rodrigues (8), Odélia Mafanela (0) e Sílvia Neves (0)

Treinador: Nazir Salé

Marcha do marcador: 7-14, 18-26, 31-41, 52-57

* ALEXANDRE ZANDAMELA