Africa Basquetebol

02 agosto 2007

MOÇAMBIQUE : Rescaldo dos Jogos Africanos de Argel (2): A medalha que atravessou a garganta das meninas

A selecção que esteve em Argel
A selecção que esteve em Argel

UMA das medalhas que estava nas previsões da delegação moçambicana aos Jogos Africanos de Argel é a de basquetebol feminino, a avaliar pelo tempo prolongado de preparação, com um estágio em Portugal, inclusivamente. Mas tudo foi por água abaixo, porque nem ouro, nem prata e muito menos bronze, principalmente esta última medalha, que ficou entalada na garganta das meninas, foi possível arrecadar. Mas o que mais doeu no meio de tudo isto foi perder duas vezes com Angola. Primeiro na fase de grupos e segundo na luta pelo terceiro lugar que dava acesso ao bronze. Agora resta saber, o que será desta equipa no Campeonato Africano do próximo mês no Senegal e que dá acesso aos Jogos Olímpicos de Beijing-2008?

O sorteio até tinha calhado bem para Moçambique. Senegal e Nigéria, que “todo o mundo” temia, estavam no grupo oposto. Pelo que a meta era terminar em primeiro lugar no agrupamento para na fase dos cruzamentos encontrar-se com os mais fracos doutra série.

Nos primeiros jogos tudo correu às mil maravilhas. Os próprios adversários não ofereceram muita resistência e foram caindo paulatinamente um por um. Primeiro foi a Costa do Marfim que apanhou por 63-39, depois a própria Argélia, em casa, por 56-46. Estes dois resultados podem, até certo ponto, ter traído a Selecção Nacional, que pensou que tudo seria fácil até ao final desta fase de grupos. Mas o que aconteceu foi o contrário. Logo a seguir com Angola foi uma derrota.

Foi a partir daqui que todos os “podres” vieram a lume. As angolanas – digo sem receios – não tinham equipa superior à nossa em termos de valores individuais, mas o conjunto acabou sendo determinante. As moçambicanas falharam que se fartaram. Nos lances livres foram péssimas. Nalguns momentos até receavam lançar. Porquê? Ninguém sabia. Havia um receio de arriscar, principalmente nos lançamentos para lá dos 6.25 metros. Algumas inclusivamente não tinham confiança em si mesmas e perdiam infantilmente a bola, mesmo em posição privilegiada. O somatório desses todos erros foi uma derrota por um ponto de diferença num jogo que merecíamos uma vitória por números bem “gordos”.

No dia seguinte era a vez da República Democrática do Congo para a última jornada do grupo. Desta vez, apesar dos erros cometidos, a vitória sorriu para as moçambicanas, por 60-48. Nas contas finais do grupo, Moçambique ficava em segundo, mas com os mesmos pontos do primeiro, Angola.

Na fase seguinte – já a eliminar – Moçambique cruzou com o Quénia, uma equipa rejuvenescida e com jogadores possantes e de estatura acima da média. Aí valeu a experiência e a manha de algumas das nossas atletas.

Esta vitória colocou Moçambique na rota dos “colossos”. Tinha pela frente a Nigéria para o acesso à final. Não conseguiu, mesmo depois de um esforço suplementar, chegar lá, onde já teria a prata garantida. Neste jogo há que reconhecer que o adversário foi superior, apesar da réplica que as miúdas tentaram dar.

ANGOLA NOVAMENTE

No mesmo dia que Moçambique defrontou a Nigéria, Angola bateu-se com o Senegal. Tanto Moçambique como Angola, que tinham ficado em primeiro e segundo lugares no mesmo grupo cederam. A final foi entre os dois primeiros doutra série (Senegal e Nigéria).

Moçambique entrava novamente na rota das angolanas. Era um jogo de vida ou de morte, porque em disputa estava o terceiro lugar, que dava direito à medalha de bronze.

As previsões apontavam Moçambique como favorito. As próprias angolanas sabiam disso e tinham em mente que no primeiro encontro a sua vitória tinha sido com alguma pontinha de sorte. Só que desta vez, a responsabilidade acabou sendo determinante para a equipa nacional.

O jogo correu normalmente. Curioso é que o sistema táctico utilizado por Blanco acabou confundido a todos. As nossas postes jogavam muito longe da tabela o que permitia que as angolanas ganhassem todas as bolas numa e noutra tabela. A veterana angolana, Irene Guerreiro, dos tempos de Esperança Sambo, ia enchendo o saco lá dos 6.25 metros. A vitória angolana acabou sendo justa e castigou sobremaneira a fraca capacidade de reacção das moçambicanas.

Esta terá sido a história mais triste da participação moçambicana nos Jogos Africanos de Argel: deixar escapar a medalha de bronze frente à Angola com quem perdemos por duas vezes. É caso para dizer que a espinha atravessou a garganta das meninas!

  • GIL CARVALHO