Africa Basquetebol

17 outubro 2006

MOÇAMBIQUE : Juntos vamos construir uma grande selecção - afirma Alberto Blanco, seleccionador de basquetebol feminino

CHEGAR, ver e vencer! É assim como se pode caracterizar a estreia do espanhol Alberto Blanco ao serviço da selecção nacional feminina de basquetebol. Com quase mês e meio de trabalho, Blanco, que pertence ao quadro técnico do Málaga, da Espanha, já apresentou resultados: uma medalha de ouro conquistada com todo o mérito nos Primeiros Jogos da Lusofonia, que decorreram em Macau. Na entrevista concedida ao "Notícias", o espanhol classificou de fantástica a sua nova experiência, presenteada com o título de campeão lusófono. Trata-se de um ouro que o marcará para sempre, por ser esta a primeira vez que trabalha com uma equipa feminina."Foi uma experiência fantástica. Foi um mês e meio vivido intensamente e que fica marcado no meu coração. Treinar uma equipa africana nada tem a ver com uma formação espanhola ou europeia. Espero que durante este tempo ter deixado algumas das minhas ideias no seio das jogadoras e também do meu coração, porque houve momentos em que a equipa precisava da minha garra, força para reagir a situações adversas". Considerou que, frente a Portugal, a selecção nacional fez um bom jogo e houve fases em que chegou a parecer uma equipa europeia.
"Lemos muito bem a defesa de Portugal. Esta vitória é uma felicidade para as atletas que estão aqui e também para aquelas que ficaram em Maputo e que trabalharam quase três semanas comigo. Estendo também os meus agradecimentos a todos os técnicos de basquetebol feminino que se predispuseram a trabalhar comigo. Dedico a vitória também à minha família (tenho dois filhos longe de mim e penso sempre neles) e amigos", disse, alargando as felicitações ao seu clube, que lhe deu esta oportunidade por pensar que ele seria a pessoa que podia fazer este trabalho. "Vou guardar a medalha com muito carinho num cantinho da minha casa. Espero que esta seja primeira medalha de ouro de uma carreira mais longa", desejou.
O técnico afirmou que Moçambique ficou a aprender mais alguma coisa com a sua participação neste torneio. Diz ter ficado com a sensação de a selecção ter melhorado bastante em quase todos os aspectos. "Começámos mal a competição, mas gradualmente fomos subindo. E, no último jogo com Portugal, surgimos mais concentrados. Estivemos muito bem no aspecto táctico e físico. Falei com as atletas sobre a necessidade da melhoria da qualidade táctica e de conhecimento amplo do jogo por um objecto maior que passa pela qualificação para os Jogos Olímpicos de Beijing-2008. Se há equipas que nos ganham no aspecto físico, então nós temos que trabalhar para vencê-las a nível técnico e táctico. É necessário manter os intercâmbios desportivos, principalmente com as equipas europeias para melhorarmos o nosso conceito de jogo", disse.
JOGOS OLÍMPICOS É SONHO DE TODOS
A motivação de todos, segundo Alberto Blanco, passa pela construção de uma grande equipa africana. Sublinha que na sua vida nunca tinha treinado uma equipa feminina, constituindo esta a sua primeira experiência. "Vejo que aqui há um produto para trabalhar. Mas temos que ser honestos tendo os pés bem firmes na terra. Podemos sonhar sim com o apuramento, mas confesso que nada sei do Senegal, RD Congo, Nigéria, Mali e Angola. Há apenas informações, por isso preciso de ver muitos vídeos para depois fazer uma análise correcta do que precisamos para enfrentá-los. Para já julgo ser importante a realização de mais jogos internacionais".
Segundo contou, na Espanha, os rapazes que já ganharam um campeonato europeu de juniores e do mundo foram considerados os "Golden Boys". Blanco gostaria que num futuro próximo, em função do seu desempenho, as meninas moçambicanas fossem chamadas de "Golden Girls". "Temos um campeonato africano e os Jogos Africanos e, se lá formos com uma mentalidade de "Golden Girls" acabaremos por superar muitos obstáculos".
Blanco diz que a selecção precisa de tempo para melhorar ainda mais a sua "performance", sobretudo em relação ao conceito de jogo, sublinhando que não há milagres, pois as grandes conquistas resultam de um trabalho aturado e persistente. "É preciso cultivar o hábito de treinar. Repare que na véspera do jogo com Portugal fizemos no sábado treino bidiário. E como resultado disso as jogadoras surgiram frescas e com outra postura em campo. Quanto mais treinamos mais seguro estamos de que vamos melhorar. É preciso melhorar os conceitos defensivos, particularmente nas rotações defensivas", acentuou.


Deolinda Gimo PRECISO SABER MAIS DAS OUTRAS ATLETAS


Questionado sobre se o grupo que ganhou o ouro nos Jogos da Lusófonia era para si o melhor que o país tem, o técnico foi prudente na resposta afirmando não conhecer as jogadoras que estão nos Estados Unidos da América. "Conheço mais ou menos a Clarisse Machanguana, que está na França. Penso que podemos, todavia, melhorar a equipa mas isso não dependerá das jogadoras que estão nos EUA e na França, pois tudo será determinado pelo trabalho. Ainda não tenho informações precisas se noutras partes de Moçambique existem boas jogadores".
Ao longo do torneio, foi visível a preocupação de Blanco em colocar Carla Silva em jogo. Depois de um início pouco fugaz, Carla subiu claramente de rendimento, tornando-se a par de Flávia Azinheira uma pedra importante.
Perguntámos a Blanco o porquê de tanta insistência com Carla Silva e a resposta não se fez esperar: "falei com ela. As finais são sempre para as atletas que querem ganhar. Viu que a Ana Flávia fez 20 minutos no jogo da final com Portugal. Em qualquer equipa há sempre jogadores experientes e inexperientes. Senti que a Carla estava com vontade de dar mais qualquer coisa à equipa e ela fez uma final espectacular. Noutros dias estiveram bem as outras como Nádia e Vaneza. Há que pensar sempre no colectivo, porque isto é basquetebol e não ténis ou atletismo"
A Vaneza Júnior esteve exímia no jogo de estreia com Portugal. Foi uma unidade em alta mas nos encontros subsequentes caiu nitidamente no aspecto físico e táctico. O "mister" Blanco tem uma explicação: "Vaneza é jovem. Tem apenas 20 anos e no jogo da final revelou nervosismo. Ela tem tudo para vir a tornar-se numa grande jogadora. Ela é muito forte em situação de um para um. Espero que este torneio tenha servido de experiência, corrigindo o que de mau tem para melhorar o futuro".
Alberto Blanco louvou o apoio que desde o início da chegada a Maputo tem recebido da classe de treinadores de basquetebol feminino, particularmente de Armando Meque, Carlos Aik e Nelito. "Vim a Moçambique disposto para dar tudo o que tenho dentro. Não vim para esconder nem para agradar a ninguém. Eles sabem que os meu treinos estão abertos para todos. Mas devo dizer que preciso da ajuda deles para conhecer a realidade do potencial que o país pode ainda oferecer. Esta semana começo a trabalhar com os técnicos masculinos".