Africa Basquetebol

30 dezembro 2005

ANGOLA: Frustrante campanha de Angola no africano merece reflexão

Terminou quarta-feira o décimo-nono Campeonato Africano de Basquetebol sénior feminino que vinha decorrendo desde o dia 21 do presente mês em Abuja, Nigéria, e que consagrou a selecção anfitriã e relegou Angola para o sexto posto, piorando a classificação da edição anterior, em Moçambique.

Angola, que tinha como pretensão a melhoria do quarto lugar obtido em Maputo, teve uma participação desprestigiante para um país tido como uma potência, principalmente na classe masculina.

A má prestação de Angola nesta prova pode ter sido consequência da sua preparação atribulada resultante da incerteza da sua presença na competição, devido aos problemas financeiros vividos.

Aliás, só mesmo a escassos dias do início do campeonato Angola confirmou a sua participação, depois da intervenção do Governo, que teve que disponibilizar uma verba adicional para que tal fosse possível, porquanto os cofres da Federação Angolana de Basquetebol (FAB) estavam vazios.

Ainda assim, foi impossível integrar na selecção qualquer profissional a actuar no exterior, o que fragilizou a equipa, já que todos os outros conjuntos apresentaram as suas principais unidades a evoluir no estrangeiro.

Isso, agravado ao facto de chegarem no mesmo dia do início da competição, com escalas em Addis Abeba e Lagos, chegando a Abuja a poucas horas da meia noite, afectou deveras as jogadoras, porque não tiveram tempo para recuperar do cansaço da viagem, nem de se ambientar ao clima e a comida, e tiveram que jogar logo a seguir com Moçambique, uma equipa apostada em manter-se no pódio.

Este jogo pôs a descoberto os problemas de Angola, sobejamente conhecidos pelos adversários e por isso mesmo bem aproveitados por eles. Porem, a derrota, por escasso um ponto (51-52), poderia ter sido evitada se houvesse mais concentração nos momentos decisivos da partida, mas o factor psicológico sobrepôs, pois foi claramente notória a desmotivação e desmoralização de algumas jogadoras.

Esta derrota foi mal digerida e o jogo seguinte diante da RD Congo era tido como a salvação para a passagem a outra fase em caso de vitória, mas averbou nova derrota, outra vez por um ponto (52-53), quando a escassos segundos do fim da partida as angolanas venciam por uma margem de três pontos, mas viram-se escandalosamente prejudicadas pela arbitragem.

A partir daqui, o sonho de melhorar o quarto lugar desvaneceu-se e as atletas entraram num pranto penoso, que nem as vitórias (79-26) sobre o Níger e (63-36) ao Gabão atenuaram os estragos e, prova disso, foi a terceira derrota na prova, desta feita diante do Mali, por 50-55, perdendo no mínimo a possibilidade de ficar em quinto lugar e qualificar-se directamente para a fase final da próxima edição.

O jovem treinador Aníbal Moreira e seus adjuntos bem tentaram reanimar o grupo mas sem resultado, e agora tudo o que esperam é que se melhorem as questões administrativas para uma melhor planificação sempre que o país tiver que participar em eventos.

Assim se resume a presença angolana neste africano, uma participação que deve servir de reflexão para os dirigentes federativos nacionais, a fim de não se repetir figuras como a feita na Nigéria, uma nação que se deleita com qualquer derrota de Angola, seja em que frente for, tanta é a raiva que ainda sente por ter sido afastada da fase final do Mundial de Futebol de 2006.

O único ganho da presença de Angola em Abuja foi alcançado noutra frente, a da diplomacia desportiva, ao vencer a batalha para a organização do Afrobasket-2007, em detrimento do Mali, seu único concorrente.

Aqui sim, Gustavo da Conceição, o presidente da FAB, e o seu secretário-geral Tony Sofrimento, obtiveram um êxito assinalável ao conseguirem convencer os membros da Comissão Executiva da Fiba-África, como se diz na gíria, a deixarem cair o Mali, que tinha quase tudo a seu favor antes da chegada dos dirigentes angolanos a capital nigeriana, munidos de um projecto que satisfez a maioria.

Em relação à prova, a sua organização pode ser considerada positiva, as delegações estiveram bem alojadas (no Nicon Hilton, um Hotel de cinco estrelas), embora tenha havido queixas acerca da alimentação, quase sempre confeccionada com picante.

E a Nigéria pode ser considerado um digno vencedor, se bem que contou com a mãozinha da arbitragem em alguns momentos críticos, com destaque para o jogo da meia-final diante da RD Congo. Por isso, as reclamações das congolesas, principalmente da sua vedeta Mwadi Mabika, que joga na WNBA, pelo Los Angeles, têm razão de ser.

A ira desta atleta foi tal que no jogo qualificativo para o terceiro lugar não se empenhou e o seu país perdeu para Moçambique por 51-59. Ela chegou mesmo a banalizar os responsáveis da prova, incluindo os da FIBA-Africa, ao insurgir-se contra todos de forma veemente no campo e na imprensa.

O campeonato consagrou a nigeriana Mfon Udoka como MVP, melhor marcadora e ressaltadora da prova.

A classificação final ficou assim estabelecida:

1º Nigéria
2º Senegal
3º Moçambique
4º RD Congo
5º Mali
6º Angola
7º Cabo Verde
8º Níger
9º Gabão
10º Togo

Os dois primeiros estão apurados para o Mundial de 2006 no Brasil e os cinco lugares cimeiros têm garantida a sua presença na fase final do próximo Afrobasket.

Por problemas de transporte, a selecção de Angola apenas deixa a Nigéria no dia três de Janeiro.

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