MOÇAMBIQUE : Campeãs africanas em “extinção”: Razia no básquete “alvi-negro”
DAS orgulhosamente bicampeãs africanas e laboriosamente tricampeãs nacionais, resta agora a nostalgia desse período áureo e gravado em letras douradas nos anais da bola-ao-cesto “alvi-negra”, e não só. Maputo, Quarta-Feira, 4 de Maio de 2011:: Notícias
É que, por força das circunstâncias, a temível formação de basquetebol feminino do Desportivo está em dissolução, com o técnico Nazir Salé e grande parte das suas atletas repentinamente de saída para a Liga Muçulmana, que a partir deste ano vai abraçar a modalidade.
Nos meandros do basquetebol, o facto, que colheu “todo o mundo” de surpresa, está a ser objecto dos mais díspares comentários. Uns, entendem que, sendo bem-vinda a Liga Muçulmana na modalidade, pois assim aumenta o número de clubes praticantes, esta devia, no entanto, começar pela área da formação e, paulatinamente, ir se lançando na alta competição. Outros, por seu turno, acham absolutamente normal a razia que ocorreu no Desportivo, recordando a mesma situação nos anos passados, quando o Ferroviário foi buscar a quase totalidade das jogadoras do Maxaquene, ficando as restantes com A Politécnica.
No caso específico dos “alvi-negros”, o clube afirma que, oficialmente, não tem qualquer informação sobre a saída das suas jogadoras para a Liga Muçulmana, pois nenhuma atleta já manifestou tal desejo, embora reconheça que, à excepção de Anabela Cossa, Odélia Mafanela e Leia Dongue (Tanucha), que ainda possuem um vínculo contratual com o Desportivo até ao próximo ano, todas as outras têm os seus contratos já expirados e, por essa via, livres de seguir o caminho que quiserem.
Apesar disso, de acordo com o argumento “alvi-negro”, até prova em contrário todas elas são jogadoras do Desportivo, uma vez que, independentemente de estarem ou não dentro dos respectivos contratos, em nenhum momento manifestaram interesse em abandonar o emblema que vêm representando, grande parte delas desde os escalões de formação.
Dissecando todos os contornos em redor desta fervorosa novela, que inclusive está a envolver outras colectividades na qualidade de figurantes, nomeadamente Maxaquene, Ferroviário e A Politécnica, tendo em conta que também já estavam a assediar as craques “alvi-negras”, aproveitando-se da sua insatisfação face ao incumprimento de algumas das disposições contratuais de carácter primordial por parte da Direcção do Clube, fonte do Desportivo disse que tudo começou quando o técnico Nazir Salé anunciou a sua saída para a Liga Muçulmana, alegadamente para abraçar um novo projecto ligado à área de formação.
A Direcção encabeçada por Michel Grispos não se opôs à vontade do “mister”, que ao longo dos seus 10 anos à frente da equipa principal de femininos conquistou dois títulos africanos e três nacionais, para além de ter construído uma formação altamente laboriosa e competente do ponto de vista competitivo. Todavia, segundo a fonte, não imaginavam que Nelito seria também o artífice da debandada que agora se anuncia, coincidentemente, para a mesma Liga Muçulmana que, no futebol, a sua base – incluindo a equipa técnica – igualmente provém do Desportivo.
E agora? Embora, oficialmente, apenas tenham conhecimento do abandono de Nazir Salé, os “alvi-negros” pouco acreditam na possibilidade de terem as suas atletas de volta, pois, sustentam, criou-se uma empatia muito grande entre o treinador e as jogadoras, pelo que, quais gémeos siameses, dificilmente se pode separar as duas partes.
Conformado com a situação, o Desportivo garante que a bem ou a mal irá constituir uma nova formação e disputar as competições com toda a naturalidade, sublinhando que, tal como é seu apanágio, vai formar uma equipa vencedora.
NINGUÉM DESESTABILIZA NINGUÉM
Maputo, Quarta-Feira, 4 de Maio de 2011:: Notícias
Desestabilização? A Liga Muçulmana afirma que tal nunca lhe passou pela cabeça, preferindo, por esse motivo, que a resposta a esta questão seja dada pelos próprios visados, nomeadamente o técnico Nazir Salé e as jogadoras.
Invocando o incumprimento das obrigações contratuais por parte da Direcção do Desportivo, especificamente em relação aos vencimentos, como estando por detrás da sua repentina saída daquele clube, as atletas afirmam que optaram por novos ares conscientes da sua atitude e das repercussões que advirão.
A Liga Muçulmana conta que, em princípio, pretendia introduzir a bola-ao-cesto somente no próximo ano, mas, a partir do momento em que Nelito lhes apresentou um ambicioso projecto de formação, abraçaram-no imediatamente.
Para a sua prossecução, vão celebrar acordos com três estabelecimentos de ensino sediados na Matola, designadamente escolas secundárias da Matola, Zona Verde e com a Primária Completa Ngungunhana, contando, para o efeito, com a colaboração técnica de Nazir Salé, Valerdina Manhonga e Naimo Mogne.
Mesmo assim, embora priorizando a componente da formação, através de um projecto que esperam que dê bons frutos, a avaliar pelo manancial de talentos que Matola possui, a alta competição não é descurada, a começar exactamente pela equipa sénior feminina.
Ninguém está a desestabilizar ninguém, vinca uma fonte “muçulmana”, esclarecendo que a iniciativa de representar o seu clube partiu das próprias jogadoras, até porque, tendo chegado à conclusão de que não continuariam no Desportivo, se não fossem para a Liga iriam para outros emblemas, os quais, inclusive, têm estado a contactá-las.
A Liga Muçulmana sublinha o facto de as atletas, já sem contrato com o Desportivo, serem livres de procurar outros horizontes. Aliás, Nelito, hoje acusado pelos “alvi-negros” de ter maquinado esta situação, revela que já havia descontentamento no seio da equipa, e ele não tem competência para proibir quem quiser lhe seguir no destino que tomar, neste caso, a Liga Muçulmana.
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