Africa Basquetebol

02 maio 2009

ANGOLA : Embaixador africano completa 79 anos de existência

Por Valentim de Carvalho

Luanda - O basquetebol angolano, incontestável papão africano e maior representante do continente a nível do mundo, celebra no dia 18 deste mês 79 anos de existência, desde que no longínquo ano de 1930 foi lançada a primeira bola ao ar no país.

Ainda sob o jugo colonial, o país, mais precisamente Luanda, viu nascer de um recinto areal (para a prática do futebol) a modalidade que viria a ser um dos seus principais “símbolos” de expressão e reconhecimento no contesto das nações.

Reza a história que a introdução desta modalidade, hoje cheia de sucessos além fronteiras, no mosaico desportivo nacional em que o atletismo, remo, futebol e a vela já se faziam sentir se deveu à Pina Cabral, oficial do exército português e professor de educação física do Liceu Salvador Correia, em comissão de serviço no então território ultramarino de Angola.

Segundo dados disponíveis na federação angolana da modalidade (FAB), foi este professor que em 18 de Maio de 1930 organizou, no Stadium do Ferrovia Atlético Clube, a primeira partida de basquetebol no país entre as equipas do Sporting Clube de Luanda e a Associação Académica do Liceu Central Salvador Correia, a qual registou o placare de 8-5, favorável aos “leoninos”.

O jogo inseriu-se nas comemorações do 10º aniversário dos “sportinguistas” e cada cesto contou apenas um ponto.

No entanto, referem ainda os registos, o importante passo de Pina Cabral não foi suficientemente largo para lançar definitivamente a modalidade, uma vez que após a partida entre “leoninos” e “estudantes” só se voltaria a jogar basquetebol no território nacional passados seis meses. A resistência dos clubes em abrir as portas a “bola ao cesto” era grande.

Na altura, quase ninguém queria ceder à tentação do basquetebol, pois existiam somente três equipas (as duas a cima citadas e o Clube Atlético de Luanda), até que dois anos mais tarde (1932) aderia a modalidade o Sport Lisboa e Luanda (que posteriormente veio a designar-se Sport Luanda e Benfica).

De acordo com os dados, só em finais da década de 1950 é que esse desporto se afirmou no então território ultramarino de Angola, com o início de disputa de campeonatos regulares, tanto ao nível distrital (agora provincial) como provincial (hoje nacional), ganhando uma vitalidade tal que em 1969 o Benfica de Luanda sagrou-se campeão metropolitano, o mesmo que dizer campeonato de Portugal. Foi a partir de 1963 que o campeonato português passou a integrar os campeões dos territórios coloniais de Angola e Moçambique.

Período pós-independência - sucessos da selecção nacional

Quando Pina Cabral lançou as primeiras sementes à terra, jamais se imaginou que décadas depois Angola seria elevada à condição de principal referência do basquetebol africano e 12ª do ranking mundial.

De 1975, altura em que o país ascendeu à independência nacional, até aos dias de hoje o basquetebol tem sido a modalidade que mais conquistas e prestigio dá aos angolanos, pelo que se pode afirmar, categoricamente, que transformou o país num potencial embaixador africano em eventos extra-continente, quer seja em termos individuais, quer seja colectivo.

A conquista da edição 2008 da Taça Intercontinental Borislav Stankovic, a melhor classificação africana em mundiais e jogos olímpicos (10ª posição), os títulos de melhor marcador nas Universíadas Mundiais de Edmonton-83 e 2º melhor triplista no Mundial de Toronton-94, no Canadá, alcançados por atletas seus e a integração de três jogadores na única selecção continental formada até agora, em 1985 por ocasião do Jubileu da então Associação das Federações Africanas de Basquetebol Amador (AFABA, hoje FIBA-África), são só alguns exemplos que traduzem a dimensão do basquetebol angolano.

Juntam-se a isto títulos de MVP, taça de clubes africanos e o mérito de ter sido o basquetebol angolano a produzir factos que tiveram eco a nível da imprensa internacional, como o “baptismo” das “estrelas” da Liga Professional Norte-americana de Basquetebol (NBA) nos jogos olímpicos, competição em que estavam vetadas de participar, e a histórica vitória por vinte pontos de diferença sobre a Espanha (83-63), uma das melhores selecções do mundo, em plena olimpíadas de Barcelona-92.

Os protagonistas "individuais"

José Carlos Guimarães esteve entre os melhores marcadores nas Universíadas de Edmonton-83, superando “estrelas” do basquetebol mundial como os norte-americanos Karl Malone e Charles Barkley e o juguslavo Drazan Petrovic, já falecido.

Herlander Coimbra ficou na segunda posição entre os triplistas do Mundial de Toronton-94, apenas superado pelo norte-americano Reggie Miller, enquanto Jean Jacques da Conceição, Gustavo da Conceição e José Carlos Guimarães integraram o cinco inicial da selecção africana a cima referenciada, num torneio quadrangular, no Egipto, com selecções da Europa, Ásia e uma formação universitária americana.

As equipas do Petro de Luanda (por uma vez) e 1º de Agosto (quatro) são as formações nacionais que já venceram a Taça de África dos Clubes Campeões, ao passo que Jean Jaques, Miguel Lutonda (2001 e 2003) e Joaquim Gomes “Kikas” (2007) foram eleitos jogadores mais valiosos do continente.

O percurso

A caminhada para o sucesso foi longa, tendo em conta que o trabalho iniciou na altura em que Angola era um país soberano a pouco menos de três meses, quando em Fevereiro de 1976 o professor Victorino Cunha convocou e orientou a primeira selecção do pós-independência.

O “cinco” nacional fez o seu primeiro "teste", a 01 de Fevereiro do mesmo ano com a sua similar da Nigéria, para quem perdeu por nove pontos de diferença (62-71), num desafio enquadrado nos festejos do início da Luta Armada de Libertação Nacional, no qual constaram, entre outros, nomes como António Guimarães, Hilário de Sousa, Gika, Fernando Barbosa "Barbosinha" e Mário Octávio.

Foram necessários anos para que os indicadores de vitalidade pudessem ser observados e, após vários esforços para a sua "verdadeira" aparição, em 1979 vislumbrou alguma luz no fundo do "túnel" com a selecção universitária a conquistar uma medalha (bronze) para o país em competições oficiais, nos Jogos Universitários Africanos de Nairobi, no Quénia.

Na altura, julgava-se estar perante os primeiros sinais positivos. Mas, verdade seja dita, a primeira participação de Angola em Campeonatos Africanos das Nações “Afrobasket”, em 1980 na 10ª edição, em Rabat (Marrocos), deixou os angolanos um pouco distantes deste pensamento, alcançando a sétima posição.



No ano seguinte (1981) na 11ª edição, em Mogadíscio, Somália, a modalidade voltou a mostrar que ainda era cedo para se chegar ao topo, uma vez que ocupou o nono lugar, a pior classificação até a presente data.

Em face desta situação, os homens do basquetebol não baixaram os braços. Inconformados e de cabeça erguida, lançaram-se a uma série de trabalhos que lhes permitiu aparecer melhor na principal competição continental em 1983 (Alexandria), ano em que a selecção chegou pela primeira vez ao pódio, de onde não mais saiu até a presente data, ocupando a segunda posição. Nesta altura a selecção era orientada por Vlademiro Romero, já falecido.

No ano de 1989 Angola organizou o Afrobasket, em Luanda, e conquistou pela primeira vez o título, ao qual se seguiram consecutivamente outros três (Cairo-91, Nairobi-93 e Argel-95). Foi com Victorino Cunha no comando que o conjunto nacional venceu o primeiro campeonato africano. Alternou o terceiro lugar em Dakar-97, no Senegal, naquilo que se pode considerar "acidente de percurso" e, numa clara demonstração de supremacia continental, Angola voltou a vencer os campeonatos de (Luanda-99, Casablanca-2001, Cairo-2003, Argel-2005 e Luanda-2007).

Embaixador de África

Uma das razões que leva o basquetebol angolano a esta "função diplomática" é a sua estada regular em competições internacionais, campo em que não tem deixado seus créditos e nem de África em mãos alheias.

Se após a estreia em mundiais, em 1986, na Espanha, Angola ainda abriu vaga a outros ao falhar a edição de 1998, na Grécia, na qual estiveram as selecções da Nigéria e do Senegal, o mesmo já não se pode dizer em jogos olímpicos, pois de 1992, que se estreou, em diante somente o “basket mwangolé” representa o continente nos jogos olímpicos, marcando presenças regulares nas edições de Barcelona-92, Atlanta-96, Sidney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008, o que certamente reforça o seu reconhecimento no mundo.

Assim, de forma cronológica e muito resumida, há a referir provas nas quais a modalidade elevou o nome, Hino e Bandeira da República de Angola e consequentemente prestigiou o continente.

- Universíadas Mundiais do México-1979
- Jogos Universitários de Nairobi-1979

- Universíadas de Edmonton (Canadá) 1983
- Mundial de Espanha-1986
- Mundial da Argentina-1990
- Jogos Olímpicos de Barcelona-1992
- Mundial do Canadá, Toronto-1994
- Jogos Olímpicos dos EUA, Atlanta-1996
- Jogos Olímpicos da Autrália, Sidney-2000
- Mundial de Indianapolis-2002.
- Jogos Olímpicos de Atenas-2004.
- Mundial do Japão-2006
- Jogos Olímpicos de Pequim-2008.

Além destas provas, a modalidade tem participações em taças Juventude, Diamante, Stankovic, RTP, entre outras. No período pós-independência somente quatro técnicos dirigiram a selecção sénior masculina: Victorino Cunha (três títulos), Mário Palma (quatro), Wlademiro Romero (um) e Alberto de Carvalho “Ginguba” (um).

Angola, com nove títulos, lidera a lista do basquetebol do continente, enquanto o Egipto e Senegal, com cinco cada, partilham o segundo lugar, seguidos da República Centro Africana e Cote D'Ivoire, ambas com dois. Marrocos vem na sexta posição com apenas um.

Fora das fronteiras africanas, o “embaixador” é, naturalmente, o melhor posicionado do continente no ranking da Federação Internacional de Basquetebol Associado (FIBA), ocupando a 12ª posição, à frente de países tidos como superiores na modalidade, como a Rússia, Brasil, Canadá, Croácia, França e Turquia.

Com toda esta diplomacia, que mais deverão fazer os Estados do mundo, senão acreditar as cartas credenciais do basquetebol angolano?