Africa Basquetebol

29 outubro 2007

TAÇA DOS CAMPEÕES DE ÁFRICA EM FEMININOS: Glória ao Glorioso!

CAMPEÕES! CAMPEÕES! NÓS SOMOS CAMPEÕES! A noite foi insuficiente para encher tamanha euforia de um povo que sabe reconhecer-se em ocasiões tão sublimes como estas. As vozes gritaram até à rouquidão e as almas moçambicanas prestaram o justo e merecido tributo a estas jovens basquetistas que com o seu saber, classe, categoria e heroísmo, fizeram história numa noite que indelevelmente ficará gravada na retina de todos nós. Somos campeões! Campeões de África! As “alvi-negras” são as novas rainhas da bola-ao-cesto continental, glorificando O Glorioso com um triunfo absolutamente convincente por 17 pontos (64-47), reveladores da prodigiosidade do Desportivo, não somente nesta final memorável como também ao longo de toda a prova, sobretudo se se tomar em linha de conta que “a priori” até nem fazia parte do leque dos prováveis campeões.
Maputo, Segunda-Feira, 29 de Outubro de 2007:: Notícias


As inesquecíveis festas de basquetebol reeditaram-se ontem, no pavilhão do Maxaquene. O público, sedento de vitórias no panorama continental, viveu cada segundo do desafio de forma intensa, sempre acreditando na vitória das moçambicanas, pois, a partir da altura em que passaram à dianteira, nos primeiros minutos, nunca mais largaram os cordelinhos da contenda. Até a onda humana voltou a agigantar-se nas bancadas, onde se cantava e se dançava ao som da nossa boa música. Embora se tenha tratado de uma competição que envolveu outros dois conjuntos nacionais – Ferroviário e ISPU, que tinham jogado antes, com triunfo das “locomotivas” por 63-56 -, a verdade manda reconhecer que, nesta grande final, todos os espectadores aglutinaram-se em redor das cores da águia, com um voo que extravasou as nossas fronteiras.

Durante os 40 minutos do prélio, as angolanas viram o brilho resplandecente dos seus diamantes completamente ofuscado pela crença e perseverança de um conjunto de atletas que, subindo gradualmente com o desenrolar da prova, souberam, neste embate decisivo, superar todas as vicissitudes e realizar uma exibição magnífica e meritória, transformando a “catedral” numa autêntica festa. Os diamantes angolanos não fizeram felicidade perante O Glorioso, que com brio e alto sentido de responsabilidade soube conquistar a coroa continental, numa formação em que o técnico Nazir Salé foi claramente feliz na escolha dos reforços, designadamente as senegalesas Anita Sy e Salimata Diatta e a moçambicana Diara Dessai, a residir em Quelimane e que trouxe à capital do país o charme do seu basquetebol, vincando aos quatro ventos que ainda é uma belíssima artista.

GALANTEIO DAS ESTRELAS

Realmente, para quem tem poucas alternativas para fazer face a uma final desta envergadura, é preciso apelar à inteligência para conseguir o feito conquistado ontem. É que, para além do triunvirato que veio reforçar, Nelito somente dispõe de mais quatro atletas à altura de tamanha responsabilidade: Valerdina Manhonga, Nádia Rodrigues, Anabela Cossa e Cátia Halar. Demasiado pouco comparativamente, por exemplo, ao Ferroviário, ISPU e 1º de Agosto. Especificamente às angolanas, a cabo-verdiana Crispina Correia, melhor marcadora do Afrobásquete Senbegal-2007, integrou-se num time que é uma verdadeira constelação de estrelas, base da selecção angolana.

Ora, à semelhança do que, astutamente, havia feito diante do Ferroviário, o treinador do Desportivo optou por “secar” as unidades-chave da turma adversária: colocou Valerdina a vigiar as acções da valorosa base Domitília Ventura – mesmo assim, foi a melhor marcadora desta final, com 17 pontos – e as senegalesas em cima das postes Crispina e Nacitela Maurício, roubando por completo o seu raio de actuação. Resultado: tanto nos ressaltos ofensivos como defensivos, as “alvi-negras” foram excepcionais, no que resultou na fraca prestação daquelas, não passando dos cinco pontos cada.

Impondo um ritmo bastante veloz ao jogo e uma defesa cerrada, o Desportivo obrigou o 1º de Agosto a coleccionar uma série de faltas e disso tirar partido. O técnico angolano, falhando em todas as suas intenções, ia fazendo mutações constantes, mas sempre caía na teia “alvi-negra”. Correndo-lhes de feição, as moçambicanas tinham os olhos fixos no cesto e uma pontaria bem afinada, logrando uma vantagem pontual que chegou a 21. Aliás, esta foi a melhor estratégia que a equipa encontrou, isto é, evitar no máximo uma aproximação do adversário, considerando que as angolanas possuem jogadoras desequilibradoras, onde se salienta Domitília, que travou um diálogo extremamente interessante com Valerdina.

À garra de Diara juntava-se o espectáculo proporcionado pelas excelentes combinações entre Salimata e Anita, duas jogadoras tecnicamente bem dotadas e pensadoras em todos os momentos. Por outro lado, para animar ainda mais a festa, os triplos de Diara, Nádia e Anabela eram um momento ímpar no pavilhão, baralhando as angolanas. Mas, acima de tudo, o que efectivamente prevaleceu nas “alvi-negras” foi a forma incansável que todas as jogadoras emprestaram ao desafio, pois, como dissemos, o técnico não dispunha de pedras para rodar a equipa como quisesse e entendesse.

No final, quando a buzina tocou, o êxtase tomou conta de “todo o mundo”. O Desportivo era campeão africano. É verdade! Abraços. Muitos abraços. Beijinhos. Um mar de beijinhos. Mesmo entre pessoas que não se conhecessem, porquanto o mais importante era festejar o título, que a partir daquela altura era nosso. Um banho de champanhe e um troféu gigantesco, entregue pelo Ministro da Juventude e Desportos, David Simango, fecharam os festejos na “catedral”, mas continuando pela cidade fora e noite adentro, com longas filas de carros buzinando de forma ensurdecedora.

FICHA DO JOGO

Árbitros: Ossama Dabbagh, Charles Foster e Rasolo Claris

DESPORTIVO (64) – Josefina Jafar (0), Anita Sy (10), Salimata Diatta (15), Valerdina Manhonga (7), Anabela Cossa (5), Cátia Halar (1), Diara Dessai (15), Luisa Nhate (0), Crechúlia Mondlane (0), Nádia Rodrigues (11), Odélia Mafanela (0) e Sílvia Neves (0)

Treinador: Nazir Salé

1º DE AGOSTO (47) – Maria Afonso (7), Luisa Miguel (0), Domitília Ventura (17), Ângela Cardoso (2), Isabel Francisco (3), Bárbara Guimarães (3), Sónia Guadalupe (0), Crispina Correia (4), Astride Vicente (2), Nacitela Maurício (5), Ernestina Neto (4) e Jaqueline Francisco (0)

Treinador: Aníbal Moreira

Marcha do marcador: 22-16, 37-25, 48-32, 64-47

* ALEXANDRE ZANDAMELA